6 de novembro de 2011

Já encheu o saco - Taça das bolinhas

Em 1971 teve início a história do campeonato brasileiro de futebol, organizado pela então CBD, nos moldes que conhecemos hoje, tendo como grande campeão o Clube Atlético Mineiro. A taça da competição seria de posse transitória, passando de campeão para campeão, ano após ano, até que algum clube conseguisse consquistá-la por 3 vezes seguidas ou por 5 vezes no total. Entrariam nessa conta os torneios organizados pela CBD/CBF.

Em 1987 a CBF jogou a toalha e assumiu que não teria condições de organizar o campeonato brasileiro de futebol (condição que na prática se mantém veladamente até hoje). Os times, liderados pelo São Paulo Futebol Clube, organizaram uma liga, que ficou conhecida como Copa União. Contando com os 12 gigantes e alguns poucos coadjuvantes o campeonato foi um sucesso e teve como legítimo campeão o Clube de Regatas do Flamengo. Era o tetracampeonato nacional do mengão. Porém, paralelo à Copa União, um outro campeonato foi disputado, envolvendo os demais times, inclusive o Guarani, vice-campeão do ano anterior. Esse torneio, que teve o Sport Clube do Recife como campeão, acabou sendo considerado oficial pela CBF. Para unificar os campeonatos, foi proposto que os campeões se enfrentassem, para unificar o título.

O Flamengo, apoiado pelos outros grandes que disputaram a Copa União, se negou a jogar. A CBF então reconheceu o Sport e o resto do mundo o Flamengo como campeão nacional de 87.

E a vida continuou.

Veio 92 e mais um título nacional para o Flamengo, o quinto de sua história, o quarto reconhecido pela CBF.

E a vida continuou de novo, ela sempre faz isso.

Veio 2006 e o São Paulo consegue seu 4º título brasileiro. 2007 e o tricolor é pentacampeão, reconhecido pela CBF. 2008 vem o hexa, três campeonatos seguidos. O São Paulo exigiu a posse definitiva da taça, a famigerada Taça das Bolinhas e o Flamengo não gostou, alegando ter sido o primeiro pentacampeão em 92.

E aí começou uma das maiores palhaçadas do futebol brasileiro nos últimos tempos.

Tivessem os dirigentes dos grandes clubes seguido o exemplo da Copa União e continuado a organizar os campeonatos sem a mão opressora da CBF, nada disso teria acontecido. Mas a mesquinharia e covardia fala mais alto para esses senhores.

O São Paulo alega ser o primeiro pentacampeão reconhecido pela CBF (justamente a CBF que tanto nos prejudica e a quem o clube tanto combate), o que é verdade. O Flamengo alega ser o primeiro pentacampeão nacional depois de 71, o que também é verdade, os grandes, liderados pelo próprio São Paulo, reconheceram isso em 87.

A Taça virou arma política. O presidente da CBF acena com ela e os dirigentes fazem o ridículo papel de um cão querendo abocanhar o osso. É patético. A taça veio para o Morumbi, mas a cada semana surgem decretos com a intenção de tirá-la de lá.

São Paulo e Flamengo, dois gigantes mundiais, dois times que dentro de campo são capazes de protagonizar jogos memoráveis que mexem com 50 milhões de corações, agora estão numa disputa nojenta de bastidores, criando uma rixa desnecessária por um simples pedaço de lata. Sim, é isso que as taças são, todas elas. O que importa são os títulos, as emoções vividas pelos torcedores e as lembranças. Isso ninguém pode nos tirar, não há taça que substitua. O que mais me impressiona são torcedores, dos dois lados, defendendo apaixonadamente a posse da taça, um acusando o outro de ladrão, outro acusando o um de mentiroso. Estamos numa época conturbada, levando o esporte a sério demais, criando inimizades demais. Parece que sempre precisamos provar ser os melhores e muitas vezes fazemos isso rebaixando os outros, difamando. Quanto maior for o Flamengo, maior será o São Paulo. E vice-versa. A importância desses clubes não aumentará nem diminuirá com a posse ou falta dessa taça.

Essa poderia ser a grande oportunidade para se dar um grande golpe na CBF e um grande exemplo de espírito esportivo, replicando a taça, deixando uma na Gávea, outra no Morumbi e a original em algum museu. Bastaria um pouco de boa vontade e coragem dos dirigentes. Mas a mesquinharia e covardia fala mais alto para esses senhores e senhoras.

Sinceramente, fico triste e envergonhado ao acompanhar meu time do coração envolvido em tal disputa.

E essa taça das bolinhas já encheu o saco.




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