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13 de maio de 2012

Dia das Mães

POR PATRÍCIA Sempre dei valor ao Dia das Mães (mesmo quando percebi que poderia ser uma data voltada ao comércio... “Maio não tem nada que aumente as vendas”... “Que tal colocar o Dia das Mães em maio?”... “Ótimo, você foi promovido!”). Procurando pela internet, encontrei muitas referências dizendo que desde a Grécia Antiga, havia celebrações na entrada da primavera, em homenagem a Reia, mãe de Zeus e considerada matriarca de todos os deuses. Mas essa festa ancestral se perdeu, e o Dia das Mães atual só surgiu no início do século passado, nos Estados Unidos, como homenagem às mulheres que perderam os filhos na Guerra Civil Americana. Aí, em 1932 o presidente Getúlio Vargas oficializou a comemoração aqui no Brasil e já em 1949 a data ficou mais voltada ao comércio, quando começaram muitas propagandas para aumentar as vendas, virando a data mais rentável para o comércio, juntamente com o Natal. 


Quando criança, adorava entregar cartões, desenhos, flores ou bugigangas feitas na escola, para a minha mãe, que era sempre super sensível (só que ao contrário) e muitas vezes “avisava” que aquelas flores eram mato, ou que já não havia lugar para guardar tanto papel e nunca guardava as bugigangas trazidas da escola. Depois cresci e parei de dar presentes após ter recebido algumas críticas pela blusa que escolhi com muita atenção, para que fosse da cor preferida dela, com um tipo de decote e mangas permitidos por sua religião, assim como pela roupa que ela provou na loja e depois não usou dizendo que não havia gostado muito, ou pelas flores que murcham, de forma que resolvi ficar só nos telefonemas e felicitações, que também renderam críticas, por eu nunca dar um presente. – Soube que os perfumes, sabonetes, tênis dados pelos meus irmãos, uns poucos anos atrás, também foram reprovados! Resumindo, é difícil agradar a minha mãe e tenho certeza que muitos passam pelo mesmo. Aliás, lembro que alguém me contou, quando indaguei sobre o presente para sua mãe, que um ano levou flores e ela pediu “um presente”, no outro levou um par de brincos que sua mãe criticou dizendo que era para mocinha, no ano seguinte, criticou o vestido dizendo que era para velha. Aí, naquele ano, não levou nada e ouviu que “nem para levar uma florzinha ou qualquer coisinha”!!! Ou seja, não muito diferente da minha própria mãe, pelo menos neste ponto. 


Afinal, mães são mulheres e, embora eu tente ao máximo fugir do padrão/clichê, sei que somos pessoas difíceis de agradar e entender, algumas muito mais! Desde pequena, ouvia minha mãe dizer que não concorda com o Dia das Mães – embora fique brava se não ganhar presentes ou telefonemas nesse dia! - e com o conceito de mãe criado pela sociedade, que é um absurdo esse, segundo sua definição, endeusamento das mães, etc. etc. Entendo os motivos dela, pois teve uma vivencia difícil do “ter” e consequentemente do “ser” mãe e normalmente concordava com ela, só para evitar discussões que não levariam a lugar nenhum, porque como disse lá na primeira linha, eu gosto e sempre valorizei o dia das mães. Mas ela é minha mãe e de alguma forma, sempre estará lá por mim, e no final, é isso que conta. Concordo também com quem diz que todo dia é dia, mas acho legal ter um dia específico para lembrarmos, nos conscientizarmos e homenagearmos as pessoas que amamos, seja dia das mães, dos pais, das crianças, avós, qualquer um. Terminando o momento lembranças de família, lembro que todos os anos, até 2000, realizávamos um almoço de Dia das Mães na casa da minha avó. Era um dia muito gostoso, ela reunia em sua casa os filhos, filhas, noras, genros, netos e agregados, em uma confraternização simples e bem familiar, onde era possível perceber os laços de mãe e filhos. A gente costumava presenteá-la com flores, cartões ou bugigangas feitas na escola e ela sempre retribuía com um sorriso. Minha tia também, inclusive, guarda até hoje, caixas cheias de desenhos meus e dos meus irmãos! Bom, eu não sei como minha avó era como mãe, pois não estava lá para saber (mas meu tio comentou que ela era daquelas que sabe o que o filho está sentindo só de olhar!), o que sei é que ela era uma ótima avó e amiga e por isso, todo Dia das Mães que segue desde o seu falecimento (Dezembro de 2000), lembro-me dela e não poderia deixar de cita-la aqui. 


Acabei lembrando dessas histórias, enquanto pensava sobre o “ser mãe”, porque sempre tive a opinião que para ser mãe, não basta ter um filho, ser mãe é uma construção e é preciso estar disposta a crescer, aprender e evoluir. É fundamental estar aberta para o novo, abrir mão de algumas coisas, dedicar-se, enfim, fazer valer o título “mãe”. Sei que não somos super mulheres que sabem, podem e conseguem tudo, que estão sempre sorrindo, saudáveis e pacientes, que estão acima de tudo e todos só porque teve um filho. Sei disso! O ponto não é esse, e sim, assumir as responsabilidades inerentes ao papel de mãe. Estou cansada de ouvir mulheres reclamando dos seus filhos, do cansaço, do trabalho, da educação deles, do comportamento deles, cansada mesmo. Principalmente quando essas mesmas mulheres são aquelas que menos passam tempo com seus filhos, que menos exercem a sua função materna, que largam os filhos com qualquer um para poder continuar se dedicando única e exclusivamente a si mesmas... Não há do que se queixar, certo? 


Se você não colocar energia em uma atividade, é natural que ela fique com alguns problemas. Nem vou focar na situação “trabalho fora”, pois sei que na sociedade atual, não é possível vislumbrar uma mulher que não trabalha, estuda, faz academia, cuida do filho, da casa, do marido, etc. etc. temos que ser multitarefas, isso é fato. Mas isso não justifica o que vem acontecendo, crianças colocadas em segundo, terceiro, quarto plano, sem nenhum vínculo afetivo, que são mimadas com presentes e caprichos, para compensar a falta de tempo e muitas vezes (muitas mesmo), a falta de vontade dos pais de dar atenção, carinho, despenderem tempo com o filho, estar ali para ele, de verdade. E por isso é indiferente se a mãe faz mil atividades fora de casa ou não, porque o que vai contar é a qualidade do tempo juntos e não a quantidade. 


Seria legal se as pessoas começassem a refletir mais sobre as consequências de seus atos e escolhas. Se você escolheu ter um filho, precisa arcar com a escolha de “ser mãe”. Isso vale para pai também, mas como é dia das mães, meu pensamento está focado nelas, ops, em nós! Hora de abrir os olhos, repensar o tipo de criação, de exemplo que estamos passando para nossos filhos, eles refletem aquilo que passamos e doamos a eles, para o bem e para o mal. Vejo muitos filhos que são estranhos para a mãe, e mães que são estranhas aos filhos... cumplicidade não existe, confiança tampouco. É complicado exigir um padrão de filho exemplar, sendo uma mãe medíocre, não fará nenhum sentido e não trará bons resultados. Por isso, gostaria de deixar meu desejo de que todas nós olhemos e reconheçamos as nossas falhas, que estejamos dispostas a modificar nossos padrões de comportamento baseados em nossa própria vivência da infância para assim transcender essa experiência, para assim aproveitar tudo aquilo que foi bom, transformar tudo aquilo que não foi, evitar repetir os mesmos erros, nos sentir seguras para cometer nossos próprios erros e corrigi-los em seguida e assim, possamos criar laços de confiança e amor. 


E também guardar com carinho as bugigangas vindas da escola, as flores que são mato, os brincos de mocinha, a foto tremida, o vestido de velha, o perfume forte, etc. etc. etc. Não deseje que seu filho seja perfeito, apenas o auxilie a ser alguém bom, que reconheça e valorize as pessoas, que saiba que sempre foi valorizado e tenha em você um porto seguro. Desejo a todas as mães que realmente SÂO mães, um ótimo dia, cheio de alegrias e colhendo cada vez mais vitórias e conquistas.




AUTORA: PATRÍCIA BAPTISTA

28 de abril de 2012

Já encheu o saco - Ato Médico

PATRÍCIA BAPTISTA: Desde o momento que em que foi proposto, até agora (10 anos!) o assunto causa muitas polêmicas. Recentemente aprovado, reacendeu o fogo das discussões e gerou milhares de campanhas, ofensas e dúvidas. De modo geral, o PLS 25/2002 ou Projeto de Lei do Ato Médico tem como proposta regulamentar o exercício profissional da medicina, ou em outras palavras, os atos médicos. O texto define que só médicos são autorizados a diagnosticar doenças, a realizar cirurgias e a comandar serviços de medicina, entre outras resoluções, que você pode ler aqui e aqui

Acredito que o "Ato Médico" pode ser descrito de duas formas. Uma é como a medicina descreve, e a outra, como todas as demais áreas da saúde descrevem. Para os médicos, esta lei tem como objetivo definir quais as atividades exclusivas da profissão, aquelas que só podem ser realizadas ou autorizadas por eles e, em hipótese alguma subordina outra profissão a eles ou retira de outra categoria profissional as prerrogativas que detenha. 

As outras categorias da área da saúde pensam que esta lei tem como objetivo a reserva de mercado e subordinar aos médicos todos os outros profissionais, dificultar o atendimento da população nos outros serviços de saúde e as especializações de cada área. Um exemplo é a acupuntura, que podia ser realizada por psicólogos, fisioterapeutas, dentistas e que agora deixou de ser bobagem e charlatanismo para virar prática exclusiva dos médicos. Justo agora que a prática faz parte do SUS! 

Já fui muito contra o ato médico, o projeto original era muito estranho, além de ter sido redigido por um médico e ter como relator um outro médico, fazendo reserva de mercado para... o médico. Claro que isso era muito suspeito! Mas o PL sofreu inúmeras modificações ao longo desses 10 anos e os problemas que apresentava foram sanados, em grande parte. Ao ler a proposta final, não vi tantos problemas como tenho visto pela internet, faculdades e hospitais. Penso que muitos não leram a nova edição e ainda mantém o preconceito daquele texto apresentado anteriormente, entendo que o preconceito pode ser mantido por conta das bobagens que o presidente do Conselho Federal de Medicina disse, principalmente com relação a psicologia e fisioterapia (por exemplo, que os psicólogos, mesmo após 5 anos de estudo, não estariam aptos a diagnosticar transtornos mentais, nem promover tratamento apenas com "conversinha"), porém isso cai novamente na briga de egos e na feira das vaidades... E sinceramente, não me importo com o que ele falou. Devia estar num dia ruim, precisando urgente consultar seu psicanalista! 

Enfim, o Ato Médico já encheu o saco por causa do desgaste que trouxe para todos nós. Quem está totalmente de fora não tem ideia da tensão, da angustia, do cansaço, da mobilização feita para que fosse possível haver mudanças no Projeto de Lei, de forma que minimizasse prejuízos para os demais profissionais e para a população, que sairia sem dúvidas perdendo muito. Não sei se será o ideal, continuo achando estranha a centralização de muitos serviços nas mãos de poucos e dar exclusividade no caso de chefia e direção de núcleos multidisciplinares de saúde, mas esses 10 anos acompanhando essa luta me faz torcer para que tenha sido para o bem e que sejam feitas todas as mudanças necessárias para oferecer o melhor para a população e não para x ou y profissional.


Ah, continuo achando que a acupuntura não deve ser exclusividade médica! =)


AUTORA: PATRÍCIA BAPTISTA


18 de abril de 2012

Não é crime - aborto de anencéfalo

POR PATRÍCIA Em 2004 foi proposta a descriminalização do aborto em caso anencefalia, porém, acredito que não havia maturidade o suficiente na época, de forma que, em poucos meses, foi cassada a liminar que o autorizava, para a alegria dos manifestantes “pró vida” – seja lá o que eles entendam por vida e para tristeza de mães e familiares envolvidos numa situação de gestação de feto anencéfalo.

Muitas mulheres precisaram, neste grande período de proibição, recorrer a procedimentos pouco satisfatórios do ponto de vista da saúde física e mental. Seja abortar em clínicas, como se tivessem cometendo um crime (e tecnicamente estavam, podendo ser presas por até 4 anos); manter a gestação até o seu término, correndo sérios danos psicológicos (pense gerar por 9 meses um bebê que não viverá com você, passar por todas as transformações da gravidez e no final, não ter um bebê para cuidar e ver crescer, apenas um pequeno caixão para enterrar) e físicos (hipertensão, pré-eclampsia, estresse pós traumático, depressão) ou ainda, recorrer a justiça para que fosse autorizado o aborto, passando por situações de grande estresse, devido a incerteza de ter seu pedido negado ou aceito pelo juiz, além do tempo para receber uma resposta, sofrendo enquanto o feto se desenvolve, sem prognóstico positivo para uma vida fora do útero. É impossível imaginar de forma consistente o tamanho do sofrimento destas mulheres e de suas famílias.

No dia 11 de abril de 2012, iniciou-se novo julgamento referente à descriminalização do aborto de anencéfalos e no dia seguinte, com 8 votos a favor, o Supremo Tribunal Federal decidiu legalizar a interrupção da gravidez nestes casos. Para chegar à conclusão que se chegou, o STF levou em conta muitos argumentos relacionados ao fato e, acredito que baseado em todas as evidências, não seria possível chegar em um resultado diferente deste, se não fosse contaminado por questões de cunho religioso, por exemplo.

Desde então, não é difícil encontrar sites, blogs, revistas e jornais, discorrendo sobre o assunto. E, se de um lado encontramos uma multidão de pessoas revoltadas, dizendo que esta decisão vai contra o direito à vida, contra as leis divinas, entre outros argumentos, do outro lado vemos um grupo de pessoas (no qual me incluo), felizes com o que podemos considerar uma vitória, principalmente no que se refere ao direito da mulher e da qualidade de vida.

Tenho uma amiga psicóloga, mestre em saúde, especializada em casos de violência e abortos previstos em lei. Como autoridade no assunto, foi convidada a participar do primeiro dia de julgamento, lá mesmo, em Brasília. Desta forma, desde o início tive a possibilidade de receber informações confiáveis e em tempo real, além daquelas apresentadas na TV ou internet. A cada voto, a cada argumento, ela estava disponível para nos transmitir e também dar seu parecer a respeito, foi muito interessante e produtivo, pois pude ter um contato mais pessoal com o assunto.

Vivemos num país democrático e todos podem dar sua opinião, porém seria interessante se as pessoas, antes de saírem por aí gritando que são contra (ou a favor) disso e daquilo, procurassem entender um pouco mais sobre o que estão defendendo. Infelizmente, isso não ocorre com frequência e acabamos defendendo nossas opiniões baseados em falácias, preconceitos, “sexismos” e “achismos”. Para tentar fugir da mesma armadilha, tentarei embasar cientificamente tudo aquilo que abordo.

Não poderia iniciar de outra forma, senão explicando o que é anencefalia. De modo geral é uma má formação do tubo neural, na qual o feto não desenvolve parte do encéfalo e nem a caixa craniana. Não há garantia de vida fora do útero, sendo que na maior parte das vezes são natimortos, e no caso de sobrevivência, o bebê estará em estado vegetativo, totalmente inconsciente, não terá sensibilidade ao toque, dor, movimentos reflexos, nada. Segundo os médicos, não é semelhante a morte cerebral, pois não houve cérebro funcional anteriormente, nem mesmo formação de tecido cerebral suficiente para que desse a pessoa condições de sobrevivência. O diagnóstico é preciso e não há grandes dificuldades para identificar casos de anencefalia.

Somente com esta definição, pode-se derrubar dois argumentos das pessoas que são contra a liberação do aborto nestes casos. Um deles é que a dificuldade de identificar os casos reais de anencéfalos faria com que as mães pudessem cometer um erro gravíssimo. Ou dando o famoso jeitinho brasileiro – “digo que meu feto é anencéfalo e faço o aborto legalizado” ou ainda, o tal erro, decorrente da famosa incompetência – “fiz o aborto e descobriu-se que não era anencefalia”. O outro, é que a criança tem o direito à vida, de sentir-se viva, sentir o amor da mãe, nem que seja por algumas horas, porém, sem um tronco encefálico ou, no caso de possuí-lo, sem um cérebro funcional, não podemos dizer que há vida.

Ainda somente com a descrição da má formação genética, podemos argumentar a favor da legalização, pois durante a gestação de um feto anencéfalo, a mulher apresenta alto risco de danos físicos como embolia pulmonar, aumento do volume do líquido amniótico, pré-eclampsia e morte. Já que o diagnóstico é apresentado no início da gestação, é possível evitar todos estes transtornos fisiológicos e, além disso, todo o sofrimento psicológico que este problema causa a futura mãe. Segundo profissionais da área, todo o sofrimento desde o diagnóstico da anencefalia até a morte da criança gera graves problemas de saúde psíquica na família. A interrupção da gravidez diminui o sofrimento dos pais e evita experiências ainda mais desagradáveis, como providenciar o sepultamento do filho e toda a dor advinda deste processo, de esperar toda a gestação, para depois ver o filho num caixão, sendo enterrado. Levar a gravidez adiante pode ocasionar um quadro de depressão muito difícil de reverter. Vale lembrar que não estamos falando de uma mulher inconsequente que engravidou “sem querer” e quer se livrar do bebê, sem pensar em mais nada além de si mesma, mas sim de uma gestação desejada, muitas vezes planejada, na qual a mulher e a família criam uma grande expectativa que não vai se consumar. Ninguém espera que vai acontecer uma tragédia com os seus bebês, por isso o choque é sempre grande.

Além de levar em consideração todo o sofrimento que as famílias vivem, pois manter a gestação de um bebê que não tem condições de sobreviver, é desgastante e desumano, levou-se também em conta a autonomia reprodutiva das mulheres, o que é um grande avanço, ao meu entender. Para especialistas, é uma vitória para as brasileiras, pois esta lei garante os direitos fundamentais de liberdade, igualdade e autonomia reprodutiva.

Isto significa que a mãe não é obrigada a optar pelo aborto, somente que ela tem esta possibilidade e pode decidir fazê-lo, sem precisar esperar meses para receber uma autorização judicial, sem ser necessário sentir-se culpada e criminalizada pela decisão de interromper a gravidez, pois agora está amparada pela lei. Aliás, este é também um ponto importante! Esta lei não visa legitimar praticas de aborto, mas sim garantir o direito da mulher de realizar a antecipação terapêutica do parto. A mãe pode julgar de acordo com sua decisão pessoal e não mais depender da decisão do Estado, do magistrado ou de quem quer que seja. Assim, se você é contra o aborto em todo e qualquer caso, simplesmente siga com sua opinião e, caso concorde e viva a situação de gerar um feto anencéfalo, você agora tem o direito de poder interromper a gestação e não passar por mais traumas, além daquele que já estará vivendo. A decisão da mulher, segundo ministros, não é apenas inviolável, é sagrada!




8 de abril de 2012

Já encheu o saco - Big Brother

Há uns 12 ou 13 anos, no auge da adolescência e da arrogância inerente a esse período da vida, eu tinha certeza absoluta que ouvir punk rock era a coisa certa a fazer.  Pra mim havia um propósito naquelas músicas, uma rebeldia, um grito de ódio contra o sistema e contra a opressão. Eu não era, nem nunca seria mais um alienado, como eram os pagodeiros e sertanejos com suas músicas de dor-de-cotovelo, nem um fútil depravado que só queria pegar uma menina fútil e depravada enquanto dançava forró ou axé, nem alguém que só dava valor à forma e não ao conteúdo ouvindo músicas com muitos acordes que não levavam a nada, como faziam os metaleiros. Não. Eu era superior a tudo isso.

Porra, eu ouvia Bad Religion!

E tinha certeza que o mundo seria um lugar melhor se todos fizessem o mesmo.

(Não, eu não errei no título, esse texto é sobre o Big Brother mesmo, já vamos chegar lá).

Hoje me lembro disso e acho um pouco de graça. E também sinto um pouco de vergonha, afinal, como eu podia ser tão bobo e prepotente? Mas logo em seguida já vem o questionamento – será que eu mudei? Bom, continuo ouvindo punk rock, mas agora a minha única certeza é que isso vai mudar tanto o mundo como o funk, axé, sertanejo, pagode ou qualquer outro estilo musical. Sim, no que tange a música eu acredito ter “amadurecido” por assim dizer, mas será que em outros assuntos não tenho uma postura parecida com aquela que tinha quando era jovem? Será que eu ainda sou iludido pelo engodo de me achar um ser superior só por preferir determinada linha de pensamento, ter determinados hobbys e hábitos? O Big Brother me fez perceber que sim, que ainda caio nessa armadilha. E que fazer julgamentos é muito fácil e muito tentador.

Faz tempo que estou querendo escrever sobre esse assunto (BBB). Já vi outros blogs falando sobre esse tema e a maioria escolheu a abordagem que eu inicialmente escolheria – “esse programa é uma porcaria e deixa as pessoas mais alienadas e menos inteligentes”. Bom, foi nessa hora que respirei fundo e pensei – será que se eu partir para essa linha de pensamento, não estarei sendo tão arrogante quanto era com a música há alguns anos? E será que não estarei contradizendo o que eu acredito? Sim, certamente estaria (na verdade estarei, porque tenho a impressão que vou fazer mesmo assim).

Primeiramente – no que eu acredito? Eu acredito na vida do cidadão comum, em acordar cedo e trabalhar, porque (infelizmente?) essa é a minha realidade, é a única realidade que eu conheço. E em mais nada – Deus, céu, paraíso, inferno, karma, dharma, desígnios divinos, evolução espiritual, reencarnação, etc. Nada. Só acho que estamos largados aqui, totalmente por acaso, vagando por esse mundo, desprovidos de propósito, sem ter qualquer tipo de missão a cumprir, qualquer tipo de lição a aprender. Só tentando preencher da melhor forma aquele tempinho entre o nascimento e a morte. Isso quer dizer que, tanto faz se você passou o tempo lendo “Genealogia da Moral” de Nietzsche ou “O Veneno do Escorpião” da Bruna Surfistinha, se você ouviu Mozart ou Michel Teló, se você assistiu toda a obra do Godard, do Bergman, do Kubrick e do Aronofsky, ou se você ficou dando uma espiadinha no Big Brother. Em última instância, vamos morrer e tudo será apagado, esquecido e perderá todo o valor que nunca teve. Como disse o Rei Salomão– “Tudo é vaidade e vento que passa. Não há nada de proveitoso debaixo do sol”.

Não estou dizendo que eu gostaria que fosse assim, só estou dizendo que eu acho que seja assim (sinceramente, gostaria muito de estar errado). Quando eu disse à minha mãe que não acreditava em Deus, ela me perguntou “ah, então todo mundo pode sair matando, roubando, fazendo o que quer e se não for pego aqui na terra vai morrer e ficar sem receber nenhum tipo de punição? É isso que você acha certo?”. Respondi que não, não acho certo e nem justo, mas é isso que eu acho que acontece. E o universo não vai mudar por eu discordar do mecanismo das coisas.

Mas isso é outro assunto. Vamos voltar à casa mais vigiada do Brasil.

O título da crônica é “já encheu o saco”. E eu de certa forma posso ter passado a impressão de estar argumentando a favor do BBB. Não é o caso, não estou contra, nem a favor. Mas já estou de saco cheio - todo ano é a mesma coisa. Você liga a TV, está lá – propaganda a cada dois segundos, trechos do programa, gente chorando, cochichando, bebendo e mostrando a bunda na beira da piscina (não, eu não sou moralista, nem hipócrita – nádegas femininas me atraem, me agradam a visão, mas não naquele contexto, não enquanto a dona da bunda bonita fala e demonstra o quão vazia e feia é por dentro). Acessa um site de notícias, está estampada a manchete em letras garrafais dizendo quem ficou com quem, quem se embebedou, quem tá no paredão, quem é o anjo, quem indicou quem, quem estuprou quem. Eu assisti alguns episódios (será que podemos chamar de episódios? Ou seriam capítulos? Ou outra coisa? Bom, não importa.) do primeiro BBB (que o Kléber Bam Bam ganhou se não me engano), também assisti alguns da “casa dos artistas” (do Supla e Bárbara Paz). Era novidade, mesmo assim acabei enjoando rápido. E sempre que vejo uma nova edição ser lançada (normalmente no intervalo dos jogos, que é praticamente a única coisa que me motiva a ligar a TV), penso – “será que as pessoas não enjoam disso? Eu nem assisto e já estou de saco cheio...”. E já estamos na 12º edição do negócio?

O BBB é um veneno que corrompe a sociedade? Acho que não, mas é aqui que vem o tema que gostaria de discutir. Na minha opinião, o BBB é só mais um programa fútil (a análise é totalmente subjetiva). Isso é ruim? Depende. Eu acredito (olha, achei mais uma coisa que eu acredito!) que tudo o que é demais acaba fazendo mal. Eu não suportaria viver só de coisas supostamente intelectuais, reais e eruditas. Não, acho que um pouco de futilidade, um pouco de distração e entretenimento descompromissado é importante de vez em quando. O tal do BBB preenche essa lacuna (Ratinho e Luciana Gimenez são outras “boas” opções na televisão). O problema que vejo é quando a futilidade ocupa 100% do tempo das pessoas. Quando o BBB é só mais um dos programas vazios que assistimos. “Ah, mas você não falou que tanto faz o que assistimos? Que tudo vai acabar de qualquer forma e perder o valor?” – sim, é verdade. Mas também falei que temos que tentar preencher da melhor forma o tempo entre o nascimento e a morte, certo? E não acredito que levar uma vida totalmente baseada em futilidades seja a melhor forma de se preencher o tempo. Por quê?

Porque acredito (caramba, já estou me sentindo quase um crente!) que devemos buscar um equilíbrio na vida, tentando encher o coração de alegria quando e enquanto isso for possível (isso também é falado pelo rei Salomão em Eclesiastes) e nos preparando para as mazelas e dias de sofrimento que certamente virão. Suponho (baseado apenas em observações pessoais) que a futilidade atrapalhe nesse ponto – pessoas fúteis me parecem menos preparadas para enfrentar a realidade, a dureza e o sofrimento indissociável da condição humana (embora às vezes pareçam se divertir mais em seu universo paralelo de conto de fada). Essas pessoas também me parecem menos aptas a questionar e mesmo a entender o mundo que as cerca. Não que isso seja de grande valia, acho que o máximo que podemos almejar é ver as cordas que nos controlam. Mas isso não nos tira da condição de marionetes.

Em última instância, vamos morrer e tanto faz o que fizemos ou deixamos de fazer em vida. Não vai morrer menos quem viveu mais, e não há argumento contra isso (pelo menos nenhum que não precise apelar para o sobrenatural). Mas, levando em conta os outros fatores que apresentei (se alguém teve paciência de chegar até aqui) e considerando também que não é tão simples apenas “não gosta, muda de canal”, dado o poder de “coerção” da rede Globo, eu questiono:

O que poderia passar no lugar do BBB?

Que tipo de programa agrega algo em cultura, diminuição da futilidade e do vazio?

Existe isso na sua opinião?

Esse tipo de programa teria audiência?

A única que eu responderia com certeza seria a última. Definitivamente não teria audiência. Pois o que gostamos mesmo é de assistir a vida dos outros enquanto a nossa própria vida passa, ouvir o choro das almas vazias habitando corpos bonitos, que se bronzeiam em horário nobre na beira da piscina.


28 de fevereiro de 2012

Já encheu o saco - Controlar

O texto que escrevi sobre o Kassab na verdade era uma crítica específica e direcionada ao Controlar. Acabei falando sobre tudo menos o Controlar. Aliás, também não falei sobre as multas, então vamos lá.

Para quem não sabe (acredito e espero que a abrangência desse maravilhoso projeto seja apenas a cidade de São Paulo) o Controlar é (mais) um artifício inventado pela prefeitura para extorquir a população. Se já não bastasse a maior carga tributária do mundo, os gastos “normais” de começo de ano – IPVA, IPTU, material escolar, matrícula, etc., agora todo ano nós também temos que desembolsar uma grana para o tal Controlar. Com a desculpa da proteção ao meio ambiente (que também já encheu o saco), todos os veículos da cidade precisam passar por uma inspeção, que teoricamente verifica se o automóvel está apto a rodar sem poluir o ar em níveis além dos aceitáveis.

Na teoria tudo é muito bonito, mas a prática se mostra muito diferente. 

Primeiramente, basta olhar pela janela em um dia de sol para ver a camada cinza de poluição impregnada no horizonte. Basta observar a quantidade de veículos na Radial Leste, Faria Lima, Marginal Pinheiros ou qualquer grande avenida, em qualquer horário do dia para constatar que mesmo se todos os carros estiverem rigorosamente dentro dos limites de emissão de poluentes, ainda assim nós estaríamos completamente ferrados. Claro, isso não é motivo para aceitarmos fábricas de CO2 motorizadas desfilando pela cidade, mas daí vem a pergunta – será que os responsáveis pelos carros que aparentemente mais poluem (baseado na cor e quantidade da fumaça que sai do escapamento) levam seus veículos na inspeção? A pena para quem não estiver em dia com o tal Controlar é uma multa. Pelo menos essa multa eu nunca ouvi ninguém dizer que tomou. Por enquanto, porque notadamente estamos vivendo em uma indústria de multas. A velocidade máxima em todas as vias baixou de 70 para 60km/h. Bom, durante a semana é impossível andar a mais de 20 em qualquer lugar, mas me questiono - será que a medida foi pensando em reduzir o número de acidentes ou apenas em ter mais placas flagradas pelos quase onipresentes radares? Obviamente o Kassab assegurou que a preocupação é a segurança da população, mostrou estatísticas de redução de acidentes após a baixa do limite de velocidade, etc. Bom, eu tenho muitas dúvidas sobre isso. Tenho dúvidas se motoristas imprudentes se atentam aos limites de velocidade e se preocupam com multas e também não sei se 10km/h fazem muita diferença para quem dirige com responsabilidade.

E também não confio muito na qualidade da inspeção do Controlar. Não são poucos os casos de carros novos, que passaram em diversas pré-avaliações em mecânicos e foram reprovados no Controlar. Os critérios de aprovação são tão nebulosos quanto a (falta de) licitação que determinou que essa empresa fosse a responsável por esse grande negócio. Coisas do Kassab... medida populista e hipócrita, com o falso discurso moralista de melhorar o ar a cidade. Não melhora nada, apenas gera muita grana que certamente não será empregada para beneficiar a população.

E a questão que sempre me fica quando penso sobre essas coisas – o que o cidadão comum pode fazer a respeito? Não votar mais no cara? Me parece muito pouco, mesmo que desse certo, que o cara não fosse mais eleito (expus minha opinião sobre o “voto consciente” no texto sobre o Kassab). Sinceramente não consigo pensar em muita coisa diferente de soluções tipo tiro na testa de políticos corruptos (e também enforcamento e guilhotina, porque ia faltar bala).

Alguém tem uma ideia mais pacifista para esse tema?



23 de janeiro de 2012

Já encheu o saco - Kassab

Dizem que a primeira impressão é a que fica. A primeira impressão que tive do nosso ilustre prefeito Gilberto Kassab foi das piores. E além de ter ficado,  essa impressão se consolidou e se intensificou com o tempo. Na verdade, dificilmente eu tenho uma boa impressão de qualquer político, nem me lembro qual foi a última vez que votei em alguém (bom, na verdade eu me lembro sim, mas tenho vergonha de dizer), faz bastante tempo que venho anulando meu voto ou votando em alguém que "vou um pouco com a cara", normalmente um candidato que não tem a menor chance.


Esse é um ponto que gostaria de colocar em debate, talvez até com um texto mais dedicado futuramente - existe mesmo democracia? Toda eleição vem a turminha politizada falar em "voto consciente", mas quais são as ferramentas do cidadão comum para conseguir o tal voto consciente. Como vasculhar o passado de um cara novo no cenário político (Kassab por exemplo)? Como prever o que o cara vai fazer no futuro? E ainda mais - de que valerá o seu voto consciente contra os milhões de votos comprados pela lavagem cerebral que a propaganda política faz com a massa? Enfim, meu voto acaba sempre indo pelo subjetivo "fui com a cara" ou "esse é um psicopata" (o que pensei quando vi o Kassab). Claro, no caso de políticos conhecidos e seus afilhados (Maluf e Pitta por exemplo) temos a chance de nos basear em administrações passadas (a chance que agora temos com o Kassab), mas quando o político é novo fica mais difícil.


Mas eu querendo ou não, o cara se elegeu e logo se mostrou um político totalmente populista, frequentemente entrando em evidência na mídia por medidas "polêmicas" que pouco ou nada acrescentaram à vida das pessoas. Reconheço, a lei "Cidade Limpa" foi uma das melhores coisas feitas em muitos e muitos anos. A princípio me pareceu bobagem, mas é realmente impressionante a diferença que a (ausência da) poluição visual faz. Paralelo a isso, Kassab se destacou como falso moralista, combatendo e fechando as casas de prostituição (igual o americano Eliot Spitzer). Eu não tenho nada contra nem a favor das casas de prostituição, nem do moralismo. Só não gosto de hipocrisia. Se é pra fechar, que se feche tudo então. Não foi o que aconteceu. Foi fechada a casa "Bahamas" (a mais famosa de São Paulo) e mais uma meia dúzia, só para "dar ibope" (e ferrar com o Oscar Maroni). O hotel ao lado do Bahamas, que dizem atrapalhar os aviões que chegam ao aeroporto (e acho que deve atrapalhar mesmo) ainda está lá de pé. E não é muito difícil imaginar o que se passa dentro de alguns estabelecimentos funcionando a pleno vapor na rua Augusta. Qual era a intenção dessa medida? Combater o trabalho escravo e a exploração? Se era isso, porque antes não dar uma olhada nos porões das lojas de roupas na José Paulino? Acredito que os bolivianos que estão lá mereçam mais atenção e preocupação do que as moças que "trabalhavam" no Bahamas.


Apesar de mostrar instabilidade emocional, agredindo um idoso que foi cobra-lo em um posto de saúde, Kassab se reelegeu. E tome (dissimulada) incompetência. Um exemplo que presenciei de perto - a barragem que segurava a água no lago do parque da Aclimação se rompeu e o lago ficou vazio. A oportunidade poderia ter sido aproveitada para limpar o fundo do lago, deixando-o mais limpo e bonito quando a água voltasse. Mas não, Kassab achou melhor encher o lago, para depois esvazia-lo novamente e então limpa-lo. Acabou fazendo tudo pela metade e o parque agora tem meio lago e meio pântano em seu centro. O prédio que foi implodido na semana passada é outro exemplo de inteligência e de cara de pau do prefeito, insistindo que tudo deu certo. A operação que está sendo realizada na cracolândia também não me parece ser das mais acertadas (visão compartilhada pelos policiais). A criação do novo partido é um exemplo de ética e transparência.


E o auge - 420 milhões de dinheiro público disfarçados de "incentivos fiscais" destinados a um estádio de futebol, o tal Fielzão, que supostamente vai ajudar a desenvolver a Zona Leste. Não sou engenheiro, mas sinceramente acredito que para se construir uma escola, uma creche ou um hospital não seja necessária a presença de um estádio nas imediações. Dinheiro público doado para duas instituições privadas - o Corinthians e a construtora Odebrecht (não precisa ser mãe Diná para saber quem será a campeã das licitações de agora em diante). Tudo isso para São Paulo ter a abertura da Copa em 2014. Já seria absurdo e total falta de senso de prioridade, mas por que não investir esse dinheiro no estádio municipal então? A cidade realmente precisava de mais um campo de futebol? Quem vai jogar no Pacaembu quando o Corinthians mandar seus jogos no Fielzão? Mais prejuízo para os cofres públicos. Mas como bom populista, Kassab viu que com essa manobra poderia perder o voto das outras torcidas e decretou - vamos ajudar os outros times também! Compareceu na cerimônia de apresentação da cobertura do Morumbi, mostrando total apoio ao projeto, que pelas regras atuais não poderia ser realizado. Com a cobertura, o Morumbi ultrapassaria o limite de área construída permitida. Mas isso não é problema, claro. Não para o nosso prefeito, que mandou a seguinte pérola - "Tem coisa que é ilegal. Mas quando a gente tem transparência, apresenta o projeto para aprovação e ele se torna legal". Incentivos fiscais e vista grossa nas obras do Palestra? Acho que é questão de tempo.


Cargos maiores do que o de prefeito? Infelizmente acho que é só questão de tempo também. O futebol provavelmente garantiu muitos votos ao Kassab. Não o meu.


Kassab nunca mais.



6 de novembro de 2011

Já encheu o saco - Taça das bolinhas

Em 1971 teve início a história do campeonato brasileiro de futebol, organizado pela então CBD, nos moldes que conhecemos hoje, tendo como grande campeão o Clube Atlético Mineiro. A taça da competição seria de posse transitória, passando de campeão para campeão, ano após ano, até que algum clube conseguisse consquistá-la por 3 vezes seguidas ou por 5 vezes no total. Entrariam nessa conta os torneios organizados pela CBD/CBF.

Em 1987 a CBF jogou a toalha e assumiu que não teria condições de organizar o campeonato brasileiro de futebol (condição que na prática se mantém veladamente até hoje). Os times, liderados pelo São Paulo Futebol Clube, organizaram uma liga, que ficou conhecida como Copa União. Contando com os 12 gigantes e alguns poucos coadjuvantes o campeonato foi um sucesso e teve como legítimo campeão o Clube de Regatas do Flamengo. Era o tetracampeonato nacional do mengão. Porém, paralelo à Copa União, um outro campeonato foi disputado, envolvendo os demais times, inclusive o Guarani, vice-campeão do ano anterior. Esse torneio, que teve o Sport Clube do Recife como campeão, acabou sendo considerado oficial pela CBF. Para unificar os campeonatos, foi proposto que os campeões se enfrentassem, para unificar o título.

O Flamengo, apoiado pelos outros grandes que disputaram a Copa União, se negou a jogar. A CBF então reconheceu o Sport e o resto do mundo o Flamengo como campeão nacional de 87.

E a vida continuou.

Veio 92 e mais um título nacional para o Flamengo, o quinto de sua história, o quarto reconhecido pela CBF.

E a vida continuou de novo, ela sempre faz isso.

Veio 2006 e o São Paulo consegue seu 4º título brasileiro. 2007 e o tricolor é pentacampeão, reconhecido pela CBF. 2008 vem o hexa, três campeonatos seguidos. O São Paulo exigiu a posse definitiva da taça, a famigerada Taça das Bolinhas e o Flamengo não gostou, alegando ter sido o primeiro pentacampeão em 92.

E aí começou uma das maiores palhaçadas do futebol brasileiro nos últimos tempos.

Tivessem os dirigentes dos grandes clubes seguido o exemplo da Copa União e continuado a organizar os campeonatos sem a mão opressora da CBF, nada disso teria acontecido. Mas a mesquinharia e covardia fala mais alto para esses senhores.

O São Paulo alega ser o primeiro pentacampeão reconhecido pela CBF (justamente a CBF que tanto nos prejudica e a quem o clube tanto combate), o que é verdade. O Flamengo alega ser o primeiro pentacampeão nacional depois de 71, o que também é verdade, os grandes, liderados pelo próprio São Paulo, reconheceram isso em 87.

A Taça virou arma política. O presidente da CBF acena com ela e os dirigentes fazem o ridículo papel de um cão querendo abocanhar o osso. É patético. A taça veio para o Morumbi, mas a cada semana surgem decretos com a intenção de tirá-la de lá.

São Paulo e Flamengo, dois gigantes mundiais, dois times que dentro de campo são capazes de protagonizar jogos memoráveis que mexem com 50 milhões de corações, agora estão numa disputa nojenta de bastidores, criando uma rixa desnecessária por um simples pedaço de lata. Sim, é isso que as taças são, todas elas. O que importa são os títulos, as emoções vividas pelos torcedores e as lembranças. Isso ninguém pode nos tirar, não há taça que substitua. O que mais me impressiona são torcedores, dos dois lados, defendendo apaixonadamente a posse da taça, um acusando o outro de ladrão, outro acusando o um de mentiroso. Estamos numa época conturbada, levando o esporte a sério demais, criando inimizades demais. Parece que sempre precisamos provar ser os melhores e muitas vezes fazemos isso rebaixando os outros, difamando. Quanto maior for o Flamengo, maior será o São Paulo. E vice-versa. A importância desses clubes não aumentará nem diminuirá com a posse ou falta dessa taça.

Essa poderia ser a grande oportunidade para se dar um grande golpe na CBF e um grande exemplo de espírito esportivo, replicando a taça, deixando uma na Gávea, outra no Morumbi e a original em algum museu. Bastaria um pouco de boa vontade e coragem dos dirigentes. Mas a mesquinharia e covardia fala mais alto para esses senhores e senhoras.

Sinceramente, fico triste e envergonhado ao acompanhar meu time do coração envolvido em tal disputa.

E essa taça das bolinhas já encheu o saco.




10 de outubro de 2011

Já encheu o saco - Rafinha Bastos

Há alguns anos, em uma de suas apresentações "stand-up", o comediante Rafinha Bastos fez uma piada completamente sem graça e de caráter extremamente duvidoso, dizendo que as mulheres feias deveriam agradecer aos estupradores caso fossem suas vítimas, afinal, essa seria a única maneira de conseguirem ter alguma relação sexual.

Não sei exatamente o porquê, mas só nesse ano a turma do politicamente correto e as feministas de plantão, colocaram o caso em pauta, alegando que a piada fazia apologia ao estupro, querendo prender o comediante, etc. Rafinha se defende dizendo que comediante faz piada e piada não é apologia a nada, é só piada. E que está repaldado pelo direito à liberdade de expressão.

Há duas semanas, no programa CQC, após uma matéria sobre a cantora Wanessa Camargo (que está grávida), Rafinha disse - "eu comeria ela e o bebê". Provavelmente ele tenha tido como base aquele jogo de "qual é o cúmulo da...", nesse caso (idiota diga-se), o cúmulo da pontaria seria - "transar com uma mulher grávida e acertar a bunda do bebê". Eu me lembrei disso quando ele falou (na verdade só li depois a notícia, não vejo graça no CQC e não assisto), não sei se foi isso realmente que ele pensou pra fazer a "piada", na verdade acho que ele NÃO PENSOU pra falar. Mais uma piada sem graça, de gosto totalmente questionável e mais uma onda de ataque do politicamente correto e moralistas de plantão, dessa vez alegando que a piada fez apologia à pedofilia. O caso acabou ganhando mais destaque quando a emissora o afastou do programa, devido a pressões dos patrocinadores (marido da Wanessa, que é amigo do Ronaldo gordo e por ai vai).

No dia do afastamento, Rafinha tirou fotos com duas "modelos", num clima debochado, como quem diz - "não estou nem ai para isso". Sem nenhuma graça também. Bom, a verdade é que eu nunca gostei do Rafael Bastos. Não gosto desses humoristas que usam forçadamente um tom agressivo em suas piadas. Prefiro o estilo do Danilo Gentili por exemplo. 

Não sou da turma do politicamente correto, nem dos moralistas de plantão.
Só acho que tudo tem limite.

Não o conheço, mas tenho quase certeza que ele realmente não quis fazer apologia, nem ao estupro nem à pedofilia nos casos elencados acima. E tenho certeza também, que a maioria das pessoas que ouviram a tal piada, simplesmente ignoraram, sentindo no máximo um pouco de vergonha alheia. O problema é que um cara desses fala (o Rafael é o mais seguido do Twitter e até semana passada tinha voz ao vivo em rede nacional por exemplo) acaba se espalhando, atingindo pessoas que não se sabe exatamente como vão assimilar e interpretar as "piadas". Não, não acho que alguém vai estuprar uma mulher feia só porque ouviu a piada, mas não podemos garantir, sabemos que no mundo "tem louco para tudo". Às vezes um desses só está esperando um pequeno "empurrão" para justificar seus atos, quem vai saber?


Os "famosos" (infelizmente) acabam se tornando formadores de opinião, querendo ou não, e precisam ter um mínimo de responsabilidade com isso. Fazer piada não é desculpa para falar qualquer idiotice que apareça na cabeça. A liberdade de expressão permite que cada um fale o que quer realmente, desde que assuma as consequências pelas suas palavras depois. Você pode sair por ai dizendo que não gosta de negros (ou de brancos) é seu direito, mas depois terá que aguentar eventuais processos por discriminação racial previstos em lei. Acredito que não existam leis prevendo punições para piadas cretinas e babacas que acham que podem falar o que quiser que vai soar engraçado, só porque estão com um microfone na mão em frente às câmeras ou num palco de teatro. Cabe a nós ignorarmos até que caiam no ostracismo. 

E nesse caso específico acho que a turma do politicamente correto (que talvez mereça uma crônica "Já encheu o saco" futuramente) está com toda razão em processar esse irresponsável.

Em resumo, esse Rafinha Bastos já encheu o saco.