2 de outubro de 2011

51 anos de emoção

Futebol é no estádio.
Aquilo que passa na TV é outra coisa. É até parecido, mas não é futebol. Não o futebol em sua essência, não a experiência completa.

Se você nunca foi ao estádio, se você nunca sentiu o cheiro de pernil, cachorro-quente e churrasco, nem viu as bandeiras tremulando na porta dele, se você nunca andou junto com a multidão no meio da rua, disputando espaço com os carros, se você nunca foi embora num ônibus lotado, entoando canções de vitória depois de um grande jogo, nunca ficou amontoado com um monte de gente esperando um portão abrir, e correu de um policial logo depois disso, se você nunca viu alguém roendo unhas na arquibancada, nem ficou na ponta dos pés para tentar ver alguma coisa da geral, se sua voz nunca se fez uma com milhares de outras vozes desconhecidas, se você nunca gritou o nome do seu time até não ter mais forças, se seu mundo nunca desabou em tristeza nem explodiu em alegria quando viu a rede balançar ali de perto, então posso afirmar - você nunca viu realmente uma partida de futebol.

A tela fria inibe a emoção, os comentaristas e narradores deturpam a realidade. A alma do jogo só pode ser sentida no estádio.

Estádio, alma...

Você pode juntar um monte de tijolos com cimento, colocar um telhado entrar ali e chamar de "casa" logo no primeiro dia. Sim, será sua casa, mas ali ainda você não se sentirá em casa. Para que você se sinta em casa em algum lugar (mesmo que na sua própria casa!), é preciso que esse lugar tenha alma. E isso não acontece de um dia para o outro.

Sua casa só começa a ter alma conforme você vai tendo experiências nela. As experiências geram lembranças e é disso que a alma é feita. Lembranças. No final isso é tudo o que nos restará. Você olha para um canto e lembra que um dia seu filho caiu e bateu a cabeça ali. Olha para outro e se lembra do dia em que surpreendeu sua esposa com flores e um beijo apaixonado. Você dá risada, ouve música, almoça e janta com sua família ou sozinho, brinca com seu filho e seu cachorro, briga e faz amor com sua esposa. E só então você poderá entrar naqueles tijolos grudados com cimento e realmente se sentir em casa.

Com o estádio não é diferente. E amigo... alma não falta ao Morumbi.

Hoje o gigante completou 51 anos. Ele já estava lá quando meu pai era menino, já estava lá quando eu nasci. Ali eu já vivi todas as miríades de emoção que o futebol pode proporcionar, da desilusão profunda à esperança avassaladora, da raiva extrema à completa euforia, e antes de eu nascer essas mesmas emoções já haviam acontecido no coração de milhares de outras pessoas. E ele adquiriu alma. E se tornou nossa casa.

Casa... hoje o filho pródigo voltou para casa.

Preparamos a festa, fizemos tudo certo, jogamos bem, mas o futebol é inexorável. Do outro lado estava o Flamengo e sua mística camisa, o Flamengo que ganha forças quando sai da condição de favorito. Fomos derrotados, mas o jogo de hoje merece ser lembrado, a atuação de Rogério Ceni hoje merece ser eternizada com canções. E a de Ronaldinho Gaúcho também.

Não foi da maneira que esperávamos, mas esse é mais um jogo que dá alma ao nosso estádio, mais um jogo que fará parte das nossas lembranças. Outros jogos virão, outras duras derrotas nos serão impostas e outras vitórias épicas ocorrerão. Lembranças. Isso é tudo o que importa no final.

Perdendo ou ganhando, não há melhor lugar que o Morumbi para se passar a tarde de Domingo.

Afinal, não há melhor lugar que a nossa casa.





Texto também publicado no Blog do São Paulo (Zanquetta): www.blogdozanquetta.com

4 comentários:

  1. Só faltou a vitória no jogo ontem... até a alma do texto estaria mais "viva"!!! :)

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  2. Já nós fizemos 2 x 0 no Cruzeiro. E podemos começar a assustar. Dá-lhe Grêmio!!!
    http://professorgadomski.blogspot.com

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  3. #queraiva!
    AHAHUAUH

    Professor, pior que agora o São Paulo pega o Cruzeiro... só falta levantarmos mais um defunto no campeonato!

    Esse campeonato tá completamente em aberto, se o Grêmio conseguir impor uma boa sequência pode até beliscar uma vaga na libertadores mesmo.

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