Eu tive um pesadelo.
Sonhei (afinal os pesadelos também são sonhos, só que terríveis) que uma garoa fina começou a cair no Morumbi, antes do jogo começar. Naqueles detalhes sórdidos e cruéis que não sei como meu inconsciente consegue criar, o placar eletrônico anunciou que Paulo César de Oliveira seria o árbitro da partida. Um pouco depois disso, criando o enredo perfeito de suspense, o mesmo placar eletrônico anunciou o nome de Willian José entre os titulares do São Paulo. Isso somado aos nomes “Piris” e “Paulo Miranda” resultaram em um calafrio percorrendo a minha alma, mas eu sou corajoso (pelo menos nos pesadelos eu sempre sou corajoso) e pensei “esse jogo é nosso, pode jogar qualquer um que não vai ter erro, hoje é nosso”.
O inconsciente tenta nos dar pistas de que estamos sonhando, só que na hora a gente não percebe. Acha estranho, mas não desconfia de que seja tudo invenção da nossa própria cabeça. Nesse pesadelo de hoje, a pista foi a cor do uniforme do Santos – azul? Agora, acordado (já me belisquei pra ter certeza), eu vejo como fui bobo em não perceber logo o ardil criado pela minha mente e despertar de uma vez. Mas na hora não percebi, e só continuei sonhando. Até então ainda era sonho. Um sonho esquisito, mas só um sonho. Paulo César de Oliveira autorizou o início de jogo e a bola rolou. Daí o sonho virou pesadelo. Antes que os times pudessem se estudar, Paulo Miranda dá um carrinho dento da área e o árbitro marca pênalti. Mais uma tentativa do inconsciente para me fazer acordar – afinal, apenas em pesadelos um zagueiro titular do São Paulo Futebol Clube pode cometer um pênalti infantil daqueles logo aos 3 minutos de uma decisão. Se fosse sonho Dênis ia pegar, mas era pesadelo mesmo e Neymar marcou.
Como num filme de terror macabro, a esperança foi sendo alimentada, com volume de jogo, bola na trave, ameaça, postura ofensiva. Quando parecia que ia, Paulo Miranda falhou novamente, ficando travado na frente de Neymar, que dominou, invadiu a área como quis e ampliou o placar. O mesmo Neymar que depois quase quebrou a coluna de Piris, dando 5 dribles seguidos até ser parado com falta. Outra pista – afinal, um lateral direito titular do São Paulo Futebol Clube não pode ser driblado 5 vezes seguidas, nem por Neymar, nem por Garrincha, nem por Pelé. Eu queria acordar logo, mas ainda tinha o segundo tempo. Eu ainda precisava ser torturado pela má pontaria de Willian José. Minha esperança ainda precisava ser alimentada pelo gol, pelo volume de jogo, pela perspectiva do empate, para logo depois desmoronar completamente com um frango de Dênis após chute do onipresente Neymar. Eu queria que acabasse logo (a gente sempre quer que os pesadelos acabem logo), mas ainda precisava ver Fernandinho perdendo gol cara a cara, ainda precisava ver Cícero ser expulso após fazer falta em... Neymar. Ainda precisava ouvir, sem força ou vontade alguma de reação, a torcida do Santos gritar “eliminado”, pelo terceiro ano consecutivo.
Finalmente eu acordei, porque uma hora a gente sempre acorda. E a vida continuou, porque ela sempre continua. E já voltei a sonhar de novo, porque a gente sempre volta a sonhar. Porque a gente só vive enquanto sonha. E o sonho agora é vencer a Ponte Preta, é vencer a Copa do Brasil, é ver Luís Fabiano em campo e ser decisivo quando o São Paulo mais precisar dele, é ver Lucas chamar a responsabilidade do jogo.
O sonho é ver o São Paulo jogar.
Mas quando e enquanto os nomes “Paulo Miranda”, “Piris” e “Willian José” aparecerem no placar eletrônico, sempre ficarei na dúvida se é sonho ou pesadelo.
Filosofia de bar, literatura barata, poesias e poemas (seja lá qual for a diferença), um pouco de futebol, cinema, música, jogos, religião, política, a vida e demais coisas sem importância.
30 de abril de 2012
28 de abril de 2012
Já encheu o saco - Ato Médico
PATRÍCIA BAPTISTA: Desde o
momento que em que foi proposto, até agora (10 anos!) o assunto causa muitas
polêmicas. Recentemente aprovado, reacendeu o fogo das discussões e gerou
milhares de campanhas, ofensas e dúvidas. De modo geral, o PLS 25/2002 ou
Projeto de Lei do Ato Médico tem como proposta regulamentar o exercício
profissional da medicina, ou em outras palavras, os atos médicos. O texto
define que só médicos são autorizados a diagnosticar doenças, a realizar
cirurgias e a comandar serviços de medicina, entre outras resoluções, que você
pode ler aqui e aqui.
As outras categorias da área da saúde pensam que esta
lei tem como objetivo a reserva de mercado e subordinar aos médicos todos
os outros profissionais, dificultar o atendimento da população nos outros
serviços de saúde e as especializações de cada área. Um exemplo é a acupuntura,
que podia ser realizada por psicólogos, fisioterapeutas, dentistas e que
agora deixou de ser bobagem e charlatanismo para virar prática exclusiva
dos médicos. Justo agora que a prática faz parte do SUS!
Já fui
muito contra o ato médico, o projeto original era muito estranho, além de ter
sido redigido por um médico e ter como relator um outro médico, fazendo reserva
de mercado para... o médico. Claro que isso era muito suspeito! Mas o PL sofreu
inúmeras modificações ao longo desses 10 anos e os problemas que apresentava
foram sanados, em grande parte. Ao ler a proposta final, não vi tantos
problemas como tenho visto pela internet, faculdades e hospitais. Penso que
muitos não leram a nova edição e ainda mantém o preconceito daquele texto
apresentado anteriormente, entendo que o preconceito pode ser mantido por conta
das bobagens que o presidente do Conselho Federal de Medicina disse, principalmente com relação a
psicologia e fisioterapia (por exemplo, que os psicólogos, mesmo após 5 anos de estudo, não estariam aptos a diagnosticar transtornos mentais, nem promover tratamento apenas com "conversinha"), porém isso cai novamente na briga de egos e na feira
das vaidades... E sinceramente, não me importo com o que ele falou. Devia estar
num dia ruim, precisando urgente consultar seu psicanalista!
Enfim, o
Ato Médico já encheu o saco por causa do desgaste que trouxe para todos nós.
Quem está totalmente de fora não tem ideia da tensão, da angustia, do cansaço,
da mobilização feita para que fosse possível haver mudanças no Projeto de Lei, de forma que
minimizasse prejuízos para os demais profissionais e para a população, que
sairia sem dúvidas perdendo muito. Não sei se será o ideal, continuo achando
estranha a centralização de muitos serviços nas mãos de poucos e dar
exclusividade no caso de chefia e direção de núcleos multidisciplinares de
saúde, mas esses 10 anos acompanhando essa luta me faz torcer para que tenha
sido para o bem e que sejam feitas todas as mudanças necessárias para oferecer
o melhor para a população e não para x ou y profissional.
Ah,
continuo achando que a acupuntura não deve ser exclusividade médica! =)
AUTORA: PATRÍCIA BAPTISTA
18 de abril de 2012
Não é crime - aborto de anencéfalo
POR PATRÍCIA Em 2004 foi proposta a descriminalização do aborto em caso anencefalia, porém, acredito que não havia maturidade o suficiente na época, de forma que, em poucos meses, foi cassada a liminar que o autorizava, para a alegria dos manifestantes “pró vida” – seja lá o que eles entendam por vida e para tristeza de mães e familiares envolvidos numa situação de gestação de feto anencéfalo.
Muitas mulheres precisaram, neste grande período de proibição, recorrer a procedimentos pouco satisfatórios do ponto de vista da saúde física e mental. Seja abortar em clínicas, como se tivessem cometendo um crime (e tecnicamente estavam, podendo ser presas por até 4 anos); manter a gestação até o seu término, correndo sérios danos psicológicos (pense gerar por 9 meses um bebê que não viverá com você, passar por todas as transformações da gravidez e no final, não ter um bebê para cuidar e ver crescer, apenas um pequeno caixão para enterrar) e físicos (hipertensão, pré-eclampsia, estresse pós traumático, depressão) ou ainda, recorrer a justiça para que fosse autorizado o aborto, passando por situações de grande estresse, devido a incerteza de ter seu pedido negado ou aceito pelo juiz, além do tempo para receber uma resposta, sofrendo enquanto o feto se desenvolve, sem prognóstico positivo para uma vida fora do útero. É impossível imaginar de forma consistente o tamanho do sofrimento destas mulheres e de suas famílias.
No dia 11 de abril de 2012, iniciou-se novo julgamento referente à descriminalização do aborto de anencéfalos e no dia seguinte, com 8 votos a favor, o Supremo Tribunal Federal decidiu legalizar a interrupção da gravidez nestes casos. Para chegar à conclusão que se chegou, o STF levou em conta muitos argumentos relacionados ao fato e, acredito que baseado em todas as evidências, não seria possível chegar em um resultado diferente deste, se não fosse contaminado por questões de cunho religioso, por exemplo.
Desde então, não é difícil encontrar sites, blogs, revistas e jornais, discorrendo sobre o assunto. E, se de um lado encontramos uma multidão de pessoas revoltadas, dizendo que esta decisão vai contra o direito à vida, contra as leis divinas, entre outros argumentos, do outro lado vemos um grupo de pessoas (no qual me incluo), felizes com o que podemos considerar uma vitória, principalmente no que se refere ao direito da mulher e da qualidade de vida.
Tenho uma amiga psicóloga, mestre em saúde, especializada em casos de violência e abortos previstos em lei. Como autoridade no assunto, foi convidada a participar do primeiro dia de julgamento, lá mesmo, em Brasília. Desta forma, desde o início tive a possibilidade de receber informações confiáveis e em tempo real, além daquelas apresentadas na TV ou internet. A cada voto, a cada argumento, ela estava disponível para nos transmitir e também dar seu parecer a respeito, foi muito interessante e produtivo, pois pude ter um contato mais pessoal com o assunto.
Vivemos num país democrático e todos podem dar sua opinião, porém seria interessante se as pessoas, antes de saírem por aí gritando que são contra (ou a favor) disso e daquilo, procurassem entender um pouco mais sobre o que estão defendendo. Infelizmente, isso não ocorre com frequência e acabamos defendendo nossas opiniões baseados em falácias, preconceitos, “sexismos” e “achismos”. Para tentar fugir da mesma armadilha, tentarei embasar cientificamente tudo aquilo que abordo.
Não poderia iniciar de outra forma, senão explicando o que é anencefalia. De modo geral é uma má formação do tubo neural, na qual o feto não desenvolve parte do encéfalo e nem a caixa craniana. Não há garantia de vida fora do útero, sendo que na maior parte das vezes são natimortos, e no caso de sobrevivência, o bebê estará em estado vegetativo, totalmente inconsciente, não terá sensibilidade ao toque, dor, movimentos reflexos, nada. Segundo os médicos, não é semelhante a morte cerebral, pois não houve cérebro funcional anteriormente, nem mesmo formação de tecido cerebral suficiente para que desse a pessoa condições de sobrevivência. O diagnóstico é preciso e não há grandes dificuldades para identificar casos de anencefalia.
Somente com esta definição, pode-se derrubar dois argumentos das pessoas que são contra a liberação do aborto nestes casos. Um deles é que a dificuldade de identificar os casos reais de anencéfalos faria com que as mães pudessem cometer um erro gravíssimo. Ou dando o famoso jeitinho brasileiro – “digo que meu feto é anencéfalo e faço o aborto legalizado” ou ainda, o tal erro, decorrente da famosa incompetência – “fiz o aborto e descobriu-se que não era anencefalia”. O outro, é que a criança tem o direito à vida, de sentir-se viva, sentir o amor da mãe, nem que seja por algumas horas, porém, sem um tronco encefálico ou, no caso de possuí-lo, sem um cérebro funcional, não podemos dizer que há vida.
Ainda somente com a descrição da má formação genética, podemos argumentar a favor da legalização, pois durante a gestação de um feto anencéfalo, a mulher apresenta alto risco de danos físicos como embolia pulmonar, aumento do volume do líquido amniótico, pré-eclampsia e morte. Já que o diagnóstico é apresentado no início da gestação, é possível evitar todos estes transtornos fisiológicos e, além disso, todo o sofrimento psicológico que este problema causa a futura mãe. Segundo profissionais da área, todo o sofrimento desde o diagnóstico da anencefalia até a morte da criança gera graves problemas de saúde psíquica na família. A interrupção da gravidez diminui o sofrimento dos pais e evita experiências ainda mais desagradáveis, como providenciar o sepultamento do filho e toda a dor advinda deste processo, de esperar toda a gestação, para depois ver o filho num caixão, sendo enterrado. Levar a gravidez adiante pode ocasionar um quadro de depressão muito difícil de reverter. Vale lembrar que não estamos falando de uma mulher inconsequente que engravidou “sem querer” e quer se livrar do bebê, sem pensar em mais nada além de si mesma, mas sim de uma gestação desejada, muitas vezes planejada, na qual a mulher e a família criam uma grande expectativa que não vai se consumar. Ninguém espera que vai acontecer uma tragédia com os seus bebês, por isso o choque é sempre grande.
Além de levar em consideração todo o sofrimento que as famílias vivem, pois manter a gestação de um bebê que não tem condições de sobreviver, é desgastante e desumano, levou-se também em conta a autonomia reprodutiva das mulheres, o que é um grande avanço, ao meu entender. Para especialistas, é uma vitória para as brasileiras, pois esta lei garante os direitos fundamentais de liberdade, igualdade e autonomia reprodutiva.
Isto significa que a mãe não é obrigada a optar pelo aborto, somente que ela tem esta possibilidade e pode decidir fazê-lo, sem precisar esperar meses para receber uma autorização judicial, sem ser necessário sentir-se culpada e criminalizada pela decisão de interromper a gravidez, pois agora está amparada pela lei. Aliás, este é também um ponto importante! Esta lei não visa legitimar praticas de aborto, mas sim garantir o direito da mulher de realizar a antecipação terapêutica do parto. A mãe pode julgar de acordo com sua decisão pessoal e não mais depender da decisão do Estado, do magistrado ou de quem quer que seja. Assim, se você é contra o aborto em todo e qualquer caso, simplesmente siga com sua opinião e, caso concorde e viva a situação de gerar um feto anencéfalo, você agora tem o direito de poder interromper a gestação e não passar por mais traumas, além daquele que já estará vivendo. A decisão da mulher, segundo ministros, não é apenas inviolável, é sagrada!
Muitas mulheres precisaram, neste grande período de proibição, recorrer a procedimentos pouco satisfatórios do ponto de vista da saúde física e mental. Seja abortar em clínicas, como se tivessem cometendo um crime (e tecnicamente estavam, podendo ser presas por até 4 anos); manter a gestação até o seu término, correndo sérios danos psicológicos (pense gerar por 9 meses um bebê que não viverá com você, passar por todas as transformações da gravidez e no final, não ter um bebê para cuidar e ver crescer, apenas um pequeno caixão para enterrar) e físicos (hipertensão, pré-eclampsia, estresse pós traumático, depressão) ou ainda, recorrer a justiça para que fosse autorizado o aborto, passando por situações de grande estresse, devido a incerteza de ter seu pedido negado ou aceito pelo juiz, além do tempo para receber uma resposta, sofrendo enquanto o feto se desenvolve, sem prognóstico positivo para uma vida fora do útero. É impossível imaginar de forma consistente o tamanho do sofrimento destas mulheres e de suas famílias.
No dia 11 de abril de 2012, iniciou-se novo julgamento referente à descriminalização do aborto de anencéfalos e no dia seguinte, com 8 votos a favor, o Supremo Tribunal Federal decidiu legalizar a interrupção da gravidez nestes casos. Para chegar à conclusão que se chegou, o STF levou em conta muitos argumentos relacionados ao fato e, acredito que baseado em todas as evidências, não seria possível chegar em um resultado diferente deste, se não fosse contaminado por questões de cunho religioso, por exemplo.
Desde então, não é difícil encontrar sites, blogs, revistas e jornais, discorrendo sobre o assunto. E, se de um lado encontramos uma multidão de pessoas revoltadas, dizendo que esta decisão vai contra o direito à vida, contra as leis divinas, entre outros argumentos, do outro lado vemos um grupo de pessoas (no qual me incluo), felizes com o que podemos considerar uma vitória, principalmente no que se refere ao direito da mulher e da qualidade de vida.
Tenho uma amiga psicóloga, mestre em saúde, especializada em casos de violência e abortos previstos em lei. Como autoridade no assunto, foi convidada a participar do primeiro dia de julgamento, lá mesmo, em Brasília. Desta forma, desde o início tive a possibilidade de receber informações confiáveis e em tempo real, além daquelas apresentadas na TV ou internet. A cada voto, a cada argumento, ela estava disponível para nos transmitir e também dar seu parecer a respeito, foi muito interessante e produtivo, pois pude ter um contato mais pessoal com o assunto.
Vivemos num país democrático e todos podem dar sua opinião, porém seria interessante se as pessoas, antes de saírem por aí gritando que são contra (ou a favor) disso e daquilo, procurassem entender um pouco mais sobre o que estão defendendo. Infelizmente, isso não ocorre com frequência e acabamos defendendo nossas opiniões baseados em falácias, preconceitos, “sexismos” e “achismos”. Para tentar fugir da mesma armadilha, tentarei embasar cientificamente tudo aquilo que abordo.
Não poderia iniciar de outra forma, senão explicando o que é anencefalia. De modo geral é uma má formação do tubo neural, na qual o feto não desenvolve parte do encéfalo e nem a caixa craniana. Não há garantia de vida fora do útero, sendo que na maior parte das vezes são natimortos, e no caso de sobrevivência, o bebê estará em estado vegetativo, totalmente inconsciente, não terá sensibilidade ao toque, dor, movimentos reflexos, nada. Segundo os médicos, não é semelhante a morte cerebral, pois não houve cérebro funcional anteriormente, nem mesmo formação de tecido cerebral suficiente para que desse a pessoa condições de sobrevivência. O diagnóstico é preciso e não há grandes dificuldades para identificar casos de anencefalia.
Somente com esta definição, pode-se derrubar dois argumentos das pessoas que são contra a liberação do aborto nestes casos. Um deles é que a dificuldade de identificar os casos reais de anencéfalos faria com que as mães pudessem cometer um erro gravíssimo. Ou dando o famoso jeitinho brasileiro – “digo que meu feto é anencéfalo e faço o aborto legalizado” ou ainda, o tal erro, decorrente da famosa incompetência – “fiz o aborto e descobriu-se que não era anencefalia”. O outro, é que a criança tem o direito à vida, de sentir-se viva, sentir o amor da mãe, nem que seja por algumas horas, porém, sem um tronco encefálico ou, no caso de possuí-lo, sem um cérebro funcional, não podemos dizer que há vida.
Ainda somente com a descrição da má formação genética, podemos argumentar a favor da legalização, pois durante a gestação de um feto anencéfalo, a mulher apresenta alto risco de danos físicos como embolia pulmonar, aumento do volume do líquido amniótico, pré-eclampsia e morte. Já que o diagnóstico é apresentado no início da gestação, é possível evitar todos estes transtornos fisiológicos e, além disso, todo o sofrimento psicológico que este problema causa a futura mãe. Segundo profissionais da área, todo o sofrimento desde o diagnóstico da anencefalia até a morte da criança gera graves problemas de saúde psíquica na família. A interrupção da gravidez diminui o sofrimento dos pais e evita experiências ainda mais desagradáveis, como providenciar o sepultamento do filho e toda a dor advinda deste processo, de esperar toda a gestação, para depois ver o filho num caixão, sendo enterrado. Levar a gravidez adiante pode ocasionar um quadro de depressão muito difícil de reverter. Vale lembrar que não estamos falando de uma mulher inconsequente que engravidou “sem querer” e quer se livrar do bebê, sem pensar em mais nada além de si mesma, mas sim de uma gestação desejada, muitas vezes planejada, na qual a mulher e a família criam uma grande expectativa que não vai se consumar. Ninguém espera que vai acontecer uma tragédia com os seus bebês, por isso o choque é sempre grande.
Além de levar em consideração todo o sofrimento que as famílias vivem, pois manter a gestação de um bebê que não tem condições de sobreviver, é desgastante e desumano, levou-se também em conta a autonomia reprodutiva das mulheres, o que é um grande avanço, ao meu entender. Para especialistas, é uma vitória para as brasileiras, pois esta lei garante os direitos fundamentais de liberdade, igualdade e autonomia reprodutiva.
Isto significa que a mãe não é obrigada a optar pelo aborto, somente que ela tem esta possibilidade e pode decidir fazê-lo, sem precisar esperar meses para receber uma autorização judicial, sem ser necessário sentir-se culpada e criminalizada pela decisão de interromper a gravidez, pois agora está amparada pela lei. Aliás, este é também um ponto importante! Esta lei não visa legitimar praticas de aborto, mas sim garantir o direito da mulher de realizar a antecipação terapêutica do parto. A mãe pode julgar de acordo com sua decisão pessoal e não mais depender da decisão do Estado, do magistrado ou de quem quer que seja. Assim, se você é contra o aborto em todo e qualquer caso, simplesmente siga com sua opinião e, caso concorde e viva a situação de gerar um feto anencéfalo, você agora tem o direito de poder interromper a gestação e não passar por mais traumas, além daquele que já estará vivendo. A decisão da mulher, segundo ministros, não é apenas inviolável, é sagrada!
15 de abril de 2012
Dicas de Vídeo [13]
Cavalo de Guerra
Tipo de filme feito para emocionar e ganhar prêmios. Essa preocupação é bem evidente do começo ao fim. Não que tenha algo de errado com isso, mas sei lá, tudo que é muito perfeito me incomoda de certa forma.
Mas é um grande filme, uma história bem contada com fotografia espetacular.
Recomendo!
Gigantes de Aço
Quando ouvi falar desse aqui já achei que seria só mais um filminho bobo de sessão da tarde. Bom, não deixa de ser um filminho bobo, mas é muito, mas muito legal mesmo! Deu uma baita (putz, assisti o jogo do São Paulo com o Neto comentando agora incorporei esse "baita" no meu vocabulário) nostalgia assisti-lo, me lembrou vários clássicos da infância. Apesar de um pouco violento (bem pouco, só mostra lutas de boxe entre robôs) é uma boa pedida para assistir com a família.
Muito bom!
Durval Discos
Eu gosto de filme assim - simples! Uma história bem amarrada, bons diálogos e interpretações, um cenário familiar (pelo menos para quem mora em São Paulo).
Além disso, esse filme (que não é terror!) tem uma das cenas mais bizarras que eu já vi no cinema.
Vale a pena!
Passe Livre
Pensei que esse aqui seria uma bomba. Até que não é tanto. O Owen Wilson faz a atuação padrão dele, sem causar nenhuma gargalhada, mas segurando bem o filme. Palhaçadas a parte, o filme até que remete à uma boa reflexão sobre os relacionamentos de longo prazo (essa reflexão poderia ser bem melhor explorada, sem perder o humor - daí poderíamos dizer que era um bom filme).
Enfim, comédia normal, nada demais, mas numa falta de opção geral de Sábado à noite, até que vale arriscar.
Mistério da Rua 7
O filme começa até bem, criando uma atmosfera de suspense e - mistério! Mas logo cai numa mesmice, explicando tudo que não deveria ser explicado e não dando nenhuma pista do que deveria ficar mais claro. Acaba apelando para alguns trechos obscuros que só deixam tudo mais confuso e desinteressante. Final com gosto de "perdi meu tempo".
Não recomendo.
11 de abril de 2012
Emilie Simon - Song of the storm
Por Patrícia: Pensei muito em qual música seria a primeira que colocaria no blog. Tantas opções, tantas perspectivas, tantas histórias... Muitos clássicos e referências na área musical passaram pela minha cabeça... The Ramones, Green Day, The Beatles, Pearl Jam, Titãs, Los Hermanos, Pink Floyd, Eminem.
Mas é sempre assim, na hora de escolher apenas uma, bate aquela dúvida. Nenhuma parecia ser significativa o suficiente, estranhamente.
Mas é sempre assim, na hora de escolher apenas uma, bate aquela dúvida. Nenhuma parecia ser significativa o suficiente, estranhamente.
De repente, me veio a mente: "Song of the storm"! E logo em seguida um "Putz, ninguém vai gostar".
Pois bem, ainda que ninguém vá gostar, fiquei com ela na cabeça e não consegui tirá-la, por isso resolvi ficar com esta mesmo e pensei que, talvez se explicasse (resumidamente) porque foi escolhida, ganhasse um desconto nos comentários de "Putz, que música horrível!!!"... hehehehe.
Assisti o filme "A marcha dos pinguins" no cinema e, como quase todas as mulheres do mundo, achei delicadamente encantador... cada passagem, cada paisagem, cada melodia. E, além de fazer parte da trilha sonora (ótima) deste filme (excelente), esta música teve participação em um momento muito
especial da minha vida.
Se você é mulher e já esteve ou está grávida, sabe que não deve haver outro momento na nossa vida em que conseguimos ter todos os sentimentos do mundo quase ao mesmo tempo. Se você é homem e conviveu com uma grávida, tem uma idéia (mínima) do que é isso. Foi neste contexto de "todos os sentimentos em um minuto" que prestei atenção nesta música e percebi que tinha tudo a ver com aquilo que sentia e vivia naquela hora.
Poderia contar com detalhes os "porquês", mas não vem ao caso agora, o que importa é que colocou palavras aos sentimentos e isso bastou em alguns dias, algumas horas, da longa jornada chamada gestação.
Segue a música, sejam compreensíveis com uma pobre garota atordoada pelos hormônios da gravidez... hahahaha.... :)
Se você é mulher e já esteve ou está grávida, sabe que não deve haver outro momento na nossa vida em que conseguimos ter todos os sentimentos do mundo quase ao mesmo tempo. Se você é homem e conviveu com uma grávida, tem uma idéia (mínima) do que é isso. Foi neste contexto de "todos os sentimentos em um minuto" que prestei atenção nesta música e percebi que tinha tudo a ver com aquilo que sentia e vivia naquela hora.
Poderia contar com detalhes os "porquês", mas não vem ao caso agora, o que importa é que colocou palavras aos sentimentos e isso bastou em alguns dias, algumas horas, da longa jornada chamada gestação.
Segue a música, sejam compreensíveis com uma pobre garota atordoada pelos hormônios da gravidez... hahahaha.... :)
Song of the Storm – Emilie Simon
Can't
you hear my storm coming
Stones falling on to you
Can't you feel the earth shaking
Big dark clouds forming now
Can't you hear my sky shouting
Close, chasing after you
Deep, dark fear building up
It's too strong for you
And I hope you're satisfied (x3)
To see the wind blow over me
Can't you hear my snow crying
Under your feet the ice breaking
Can't you hear me, I'm here
I'm whistling in your ear
And I hope you're satisfied (x3)
To see the wind blow over me
Can't you hear my storm coming
Stones falling
Big dark clouds forming now
Can't you hear my storm coming
Stones falling
Big dark clouds
And I hope you're satisfied (x3)
To see the wind blow over me
Over me... (x4)
Can't you hear my storm coming
Stones falling
Big dark clouds forming now (x2)
Stones falling on to you
Can't you feel the earth shaking
Big dark clouds forming now
Can't you hear my sky shouting
Close, chasing after you
Deep, dark fear building up
It's too strong for you
And I hope you're satisfied (x3)
To see the wind blow over me
Can't you hear my snow crying
Under your feet the ice breaking
Can't you hear me, I'm here
I'm whistling in your ear
And I hope you're satisfied (x3)
To see the wind blow over me
Can't you hear my storm coming
Stones falling
Big dark clouds forming now
Can't you hear my storm coming
Stones falling
Big dark clouds
And I hope you're satisfied (x3)
To see the wind blow over me
Over me... (x4)
Can't you hear my storm coming
Stones falling
Big dark clouds forming now (x2)
8 de abril de 2012
Já encheu o saco - Big Brother
Há uns 12 ou 13 anos, no auge da adolescência e da arrogância inerente a esse período da vida, eu tinha certeza absoluta que ouvir punk rock era a coisa certa a fazer. Pra mim havia um propósito naquelas músicas, uma rebeldia, um grito de ódio contra o sistema e contra a opressão. Eu não era, nem nunca seria mais um alienado, como eram os pagodeiros e sertanejos com suas músicas de dor-de-cotovelo, nem um fútil depravado que só queria pegar uma menina fútil e depravada enquanto dançava forró ou axé, nem alguém que só dava valor à forma e não ao conteúdo ouvindo músicas com muitos acordes que não levavam a nada, como faziam os metaleiros. Não. Eu era superior a tudo isso.
Porra, eu ouvia Bad Religion!
E tinha certeza que o mundo seria um lugar melhor se todos fizessem o mesmo.
(Não, eu não errei no título, esse texto é sobre o Big Brother mesmo, já vamos chegar lá).
Hoje me lembro disso e acho um pouco de graça. E também sinto um pouco de vergonha, afinal, como eu podia ser tão bobo e prepotente? Mas logo em seguida já vem o questionamento – será que eu mudei? Bom, continuo ouvindo punk rock, mas agora a minha única certeza é que isso vai mudar tanto o mundo como o funk, axé, sertanejo, pagode ou qualquer outro estilo musical. Sim, no que tange a música eu acredito ter “amadurecido” por assim dizer, mas será que em outros assuntos não tenho uma postura parecida com aquela que tinha quando era jovem? Será que eu ainda sou iludido pelo engodo de me achar um ser superior só por preferir determinada linha de pensamento, ter determinados hobbys e hábitos? O Big Brother me fez perceber que sim, que ainda caio nessa armadilha. E que fazer julgamentos é muito fácil e muito tentador.
Faz tempo que estou querendo escrever sobre esse assunto (BBB). Já vi outros blogs falando sobre esse tema e a maioria escolheu a abordagem que eu inicialmente escolheria – “esse programa é uma porcaria e deixa as pessoas mais alienadas e menos inteligentes”. Bom, foi nessa hora que respirei fundo e pensei – será que se eu partir para essa linha de pensamento, não estarei sendo tão arrogante quanto era com a música há alguns anos? E será que não estarei contradizendo o que eu acredito? Sim, certamente estaria (na verdade estarei, porque tenho a impressão que vou fazer mesmo assim).
Primeiramente – no que eu acredito? Eu acredito na vida do cidadão comum, em acordar cedo e trabalhar, porque (infelizmente?) essa é a minha realidade, é a única realidade que eu conheço. E em mais nada – Deus, céu, paraíso, inferno, karma, dharma, desígnios divinos, evolução espiritual, reencarnação, etc. Nada. Só acho que estamos largados aqui, totalmente por acaso, vagando por esse mundo, desprovidos de propósito, sem ter qualquer tipo de missão a cumprir, qualquer tipo de lição a aprender. Só tentando preencher da melhor forma aquele tempinho entre o nascimento e a morte. Isso quer dizer que, tanto faz se você passou o tempo lendo “Genealogia da Moral” de Nietzsche ou “O Veneno do Escorpião” da Bruna Surfistinha, se você ouviu Mozart ou Michel Teló, se você assistiu toda a obra do Godard, do Bergman, do Kubrick e do Aronofsky, ou se você ficou dando uma espiadinha no Big Brother. Em última instância, vamos morrer e tudo será apagado, esquecido e perderá todo o valor que nunca teve. Como disse o Rei Salomão– “Tudo é vaidade e vento que passa. Não há nada de proveitoso debaixo do sol”.
Não estou dizendo que eu gostaria que fosse assim, só estou dizendo que eu acho que seja assim (sinceramente, gostaria muito de estar errado). Quando eu disse à minha mãe que não acreditava em Deus, ela me perguntou “ah, então todo mundo pode sair matando, roubando, fazendo o que quer e se não for pego aqui na terra vai morrer e ficar sem receber nenhum tipo de punição? É isso que você acha certo?”. Respondi que não, não acho certo e nem justo, mas é isso que eu acho que acontece. E o universo não vai mudar por eu discordar do mecanismo das coisas.
Mas isso é outro assunto. Vamos voltar à casa mais vigiada do Brasil.
O título da crônica é “já encheu o saco”. E eu de certa forma posso ter passado a impressão de estar argumentando a favor do BBB. Não é o caso, não estou contra, nem a favor. Mas já estou de saco cheio - todo ano é a mesma coisa. Você liga a TV, está lá – propaganda a cada dois segundos, trechos do programa, gente chorando, cochichando, bebendo e mostrando a bunda na beira da piscina (não, eu não sou moralista, nem hipócrita – nádegas femininas me atraem, me agradam a visão, mas não naquele contexto, não enquanto a dona da bunda bonita fala e demonstra o quão vazia e feia é por dentro). Acessa um site de notícias, está estampada a manchete em letras garrafais dizendo quem ficou com quem, quem se embebedou, quem tá no paredão, quem é o anjo, quem indicou quem, quem estuprou quem. Eu assisti alguns episódios (será que podemos chamar de episódios? Ou seriam capítulos? Ou outra coisa? Bom, não importa.) do primeiro BBB (que o Kléber Bam Bam ganhou se não me engano), também assisti alguns da “casa dos artistas” (do Supla e Bárbara Paz). Era novidade, mesmo assim acabei enjoando rápido. E sempre que vejo uma nova edição ser lançada (normalmente no intervalo dos jogos, que é praticamente a única coisa que me motiva a ligar a TV), penso – “será que as pessoas não enjoam disso? Eu nem assisto e já estou de saco cheio...”. E já estamos na 12º edição do negócio?
O BBB é um veneno que corrompe a sociedade? Acho que não, mas é aqui que vem o tema que gostaria de discutir. Na minha opinião, o BBB é só mais um programa fútil (a análise é totalmente subjetiva). Isso é ruim? Depende. Eu acredito (olha, achei mais uma coisa que eu acredito!) que tudo o que é demais acaba fazendo mal. Eu não suportaria viver só de coisas supostamente intelectuais, reais e eruditas. Não, acho que um pouco de futilidade, um pouco de distração e entretenimento descompromissado é importante de vez em quando. O tal do BBB preenche essa lacuna (Ratinho e Luciana Gimenez são outras “boas” opções na televisão). O problema que vejo é quando a futilidade ocupa 100% do tempo das pessoas. Quando o BBB é só mais um dos programas vazios que assistimos. “Ah, mas você não falou que tanto faz o que assistimos? Que tudo vai acabar de qualquer forma e perder o valor?” – sim, é verdade. Mas também falei que temos que tentar preencher da melhor forma o tempo entre o nascimento e a morte, certo? E não acredito que levar uma vida totalmente baseada em futilidades seja a melhor forma de se preencher o tempo. Por quê?
Porque acredito (caramba, já estou me sentindo quase um crente!) que devemos buscar um equilíbrio na vida, tentando encher o coração de alegria quando e enquanto isso for possível (isso também é falado pelo rei Salomão em Eclesiastes) e nos preparando para as mazelas e dias de sofrimento que certamente virão. Suponho (baseado apenas em observações pessoais) que a futilidade atrapalhe nesse ponto – pessoas fúteis me parecem menos preparadas para enfrentar a realidade, a dureza e o sofrimento indissociável da condição humana (embora às vezes pareçam se divertir mais em seu universo paralelo de conto de fada). Essas pessoas também me parecem menos aptas a questionar e mesmo a entender o mundo que as cerca. Não que isso seja de grande valia, acho que o máximo que podemos almejar é ver as cordas que nos controlam. Mas isso não nos tira da condição de marionetes.
Em última instância, vamos morrer e tanto faz o que fizemos ou deixamos de fazer em vida. Não vai morrer menos quem viveu mais, e não há argumento contra isso (pelo menos nenhum que não precise apelar para o sobrenatural). Mas, levando em conta os outros fatores que apresentei (se alguém teve paciência de chegar até aqui) e considerando também que não é tão simples apenas “não gosta, muda de canal”, dado o poder de “coerção” da rede Globo, eu questiono:
O que poderia passar no lugar do BBB?
Que tipo de programa agrega algo em cultura, diminuição da futilidade e do vazio?
Existe isso na sua opinião?
Esse tipo de programa teria audiência?
A única que eu responderia com certeza seria a última. Definitivamente não teria audiência. Pois o que gostamos mesmo é de assistir a vida dos outros enquanto a nossa própria vida passa, ouvir o choro das almas vazias habitando corpos bonitos, que se bronzeiam em horário nobre na beira da piscina.
Porra, eu ouvia Bad Religion!
E tinha certeza que o mundo seria um lugar melhor se todos fizessem o mesmo.
(Não, eu não errei no título, esse texto é sobre o Big Brother mesmo, já vamos chegar lá).
Hoje me lembro disso e acho um pouco de graça. E também sinto um pouco de vergonha, afinal, como eu podia ser tão bobo e prepotente? Mas logo em seguida já vem o questionamento – será que eu mudei? Bom, continuo ouvindo punk rock, mas agora a minha única certeza é que isso vai mudar tanto o mundo como o funk, axé, sertanejo, pagode ou qualquer outro estilo musical. Sim, no que tange a música eu acredito ter “amadurecido” por assim dizer, mas será que em outros assuntos não tenho uma postura parecida com aquela que tinha quando era jovem? Será que eu ainda sou iludido pelo engodo de me achar um ser superior só por preferir determinada linha de pensamento, ter determinados hobbys e hábitos? O Big Brother me fez perceber que sim, que ainda caio nessa armadilha. E que fazer julgamentos é muito fácil e muito tentador.
Faz tempo que estou querendo escrever sobre esse assunto (BBB). Já vi outros blogs falando sobre esse tema e a maioria escolheu a abordagem que eu inicialmente escolheria – “esse programa é uma porcaria e deixa as pessoas mais alienadas e menos inteligentes”. Bom, foi nessa hora que respirei fundo e pensei – será que se eu partir para essa linha de pensamento, não estarei sendo tão arrogante quanto era com a música há alguns anos? E será que não estarei contradizendo o que eu acredito? Sim, certamente estaria (na verdade estarei, porque tenho a impressão que vou fazer mesmo assim).
Primeiramente – no que eu acredito? Eu acredito na vida do cidadão comum, em acordar cedo e trabalhar, porque (infelizmente?) essa é a minha realidade, é a única realidade que eu conheço. E em mais nada – Deus, céu, paraíso, inferno, karma, dharma, desígnios divinos, evolução espiritual, reencarnação, etc. Nada. Só acho que estamos largados aqui, totalmente por acaso, vagando por esse mundo, desprovidos de propósito, sem ter qualquer tipo de missão a cumprir, qualquer tipo de lição a aprender. Só tentando preencher da melhor forma aquele tempinho entre o nascimento e a morte. Isso quer dizer que, tanto faz se você passou o tempo lendo “Genealogia da Moral” de Nietzsche ou “O Veneno do Escorpião” da Bruna Surfistinha, se você ouviu Mozart ou Michel Teló, se você assistiu toda a obra do Godard, do Bergman, do Kubrick e do Aronofsky, ou se você ficou dando uma espiadinha no Big Brother. Em última instância, vamos morrer e tudo será apagado, esquecido e perderá todo o valor que nunca teve. Como disse o Rei Salomão– “Tudo é vaidade e vento que passa. Não há nada de proveitoso debaixo do sol”.
Não estou dizendo que eu gostaria que fosse assim, só estou dizendo que eu acho que seja assim (sinceramente, gostaria muito de estar errado). Quando eu disse à minha mãe que não acreditava em Deus, ela me perguntou “ah, então todo mundo pode sair matando, roubando, fazendo o que quer e se não for pego aqui na terra vai morrer e ficar sem receber nenhum tipo de punição? É isso que você acha certo?”. Respondi que não, não acho certo e nem justo, mas é isso que eu acho que acontece. E o universo não vai mudar por eu discordar do mecanismo das coisas.
Mas isso é outro assunto. Vamos voltar à casa mais vigiada do Brasil.
O título da crônica é “já encheu o saco”. E eu de certa forma posso ter passado a impressão de estar argumentando a favor do BBB. Não é o caso, não estou contra, nem a favor. Mas já estou de saco cheio - todo ano é a mesma coisa. Você liga a TV, está lá – propaganda a cada dois segundos, trechos do programa, gente chorando, cochichando, bebendo e mostrando a bunda na beira da piscina (não, eu não sou moralista, nem hipócrita – nádegas femininas me atraem, me agradam a visão, mas não naquele contexto, não enquanto a dona da bunda bonita fala e demonstra o quão vazia e feia é por dentro). Acessa um site de notícias, está estampada a manchete em letras garrafais dizendo quem ficou com quem, quem se embebedou, quem tá no paredão, quem é o anjo, quem indicou quem, quem estuprou quem. Eu assisti alguns episódios (será que podemos chamar de episódios? Ou seriam capítulos? Ou outra coisa? Bom, não importa.) do primeiro BBB (que o Kléber Bam Bam ganhou se não me engano), também assisti alguns da “casa dos artistas” (do Supla e Bárbara Paz). Era novidade, mesmo assim acabei enjoando rápido. E sempre que vejo uma nova edição ser lançada (normalmente no intervalo dos jogos, que é praticamente a única coisa que me motiva a ligar a TV), penso – “será que as pessoas não enjoam disso? Eu nem assisto e já estou de saco cheio...”. E já estamos na 12º edição do negócio?
O BBB é um veneno que corrompe a sociedade? Acho que não, mas é aqui que vem o tema que gostaria de discutir. Na minha opinião, o BBB é só mais um programa fútil (a análise é totalmente subjetiva). Isso é ruim? Depende. Eu acredito (olha, achei mais uma coisa que eu acredito!) que tudo o que é demais acaba fazendo mal. Eu não suportaria viver só de coisas supostamente intelectuais, reais e eruditas. Não, acho que um pouco de futilidade, um pouco de distração e entretenimento descompromissado é importante de vez em quando. O tal do BBB preenche essa lacuna (Ratinho e Luciana Gimenez são outras “boas” opções na televisão). O problema que vejo é quando a futilidade ocupa 100% do tempo das pessoas. Quando o BBB é só mais um dos programas vazios que assistimos. “Ah, mas você não falou que tanto faz o que assistimos? Que tudo vai acabar de qualquer forma e perder o valor?” – sim, é verdade. Mas também falei que temos que tentar preencher da melhor forma o tempo entre o nascimento e a morte, certo? E não acredito que levar uma vida totalmente baseada em futilidades seja a melhor forma de se preencher o tempo. Por quê?
Porque acredito (caramba, já estou me sentindo quase um crente!) que devemos buscar um equilíbrio na vida, tentando encher o coração de alegria quando e enquanto isso for possível (isso também é falado pelo rei Salomão em Eclesiastes) e nos preparando para as mazelas e dias de sofrimento que certamente virão. Suponho (baseado apenas em observações pessoais) que a futilidade atrapalhe nesse ponto – pessoas fúteis me parecem menos preparadas para enfrentar a realidade, a dureza e o sofrimento indissociável da condição humana (embora às vezes pareçam se divertir mais em seu universo paralelo de conto de fada). Essas pessoas também me parecem menos aptas a questionar e mesmo a entender o mundo que as cerca. Não que isso seja de grande valia, acho que o máximo que podemos almejar é ver as cordas que nos controlam. Mas isso não nos tira da condição de marionetes.
Em última instância, vamos morrer e tanto faz o que fizemos ou deixamos de fazer em vida. Não vai morrer menos quem viveu mais, e não há argumento contra isso (pelo menos nenhum que não precise apelar para o sobrenatural). Mas, levando em conta os outros fatores que apresentei (se alguém teve paciência de chegar até aqui) e considerando também que não é tão simples apenas “não gosta, muda de canal”, dado o poder de “coerção” da rede Globo, eu questiono:
O que poderia passar no lugar do BBB?
Que tipo de programa agrega algo em cultura, diminuição da futilidade e do vazio?
Existe isso na sua opinião?
Esse tipo de programa teria audiência?
A única que eu responderia com certeza seria a última. Definitivamente não teria audiência. Pois o que gostamos mesmo é de assistir a vida dos outros enquanto a nossa própria vida passa, ouvir o choro das almas vazias habitando corpos bonitos, que se bronzeiam em horário nobre na beira da piscina.
3 de abril de 2012
O Nada e Eu
Pensamentos
alienados
Insensibilidade
sonora
Realidade
fictícia
Palavras
desentoadas
Memórias
metafóricas
Imagens
abstratas
Esquecimento
consciente
Conversas mudas
Sorriso infeliz
Olhar
conflitante
Lágrimas
fingidas
Vida em morte
morte em vida
morte em vida
Passado presente
Medo possessivo
Problemas
inacabados
O nada e eu.
Autora: Patrícia (Patthye)
Autora: Patrícia (Patthye)
1 de abril de 2012
Conheça o blogueiro
Respostas aos memes da Joicy e da Valquíria (fico honrado com a lembrança!)
11 coisas sobre mim
1 - Torço pelo São Paulo Futebol Clube. Já fui extremamente fanático quando era jovem. Bom, acho que não mudei nada depois de velho.
2 - Tenho um Shih-Tzu (um cão conhecido pela ferocidade) chamado Kaká (meu filho que escolheu esse nome, hein!). Sim, isso combinado com o primeiro ítem acaba por gerar algumas piadas.
3 - Sou garoto de programa.
4 - Tenho 1 metro e 66 e 75 quilos (o que deixa a piada anterior sem graça, porque daí todo mundo já se liga que estou me referindo à programas de computadores).
5 - Um dia pretendo conhecer o Acre. Também não faço a menor idéia do porquê, mas quero ir, mesmo que seja pra chegar lá, pensar "que fria, hein?" e querer voltar no dia seguinte.
6 - Tenho 31 e sou casado há 10 anos (não, ela não estava grávida quando nos casamos!).
7 - Tenho um filho que acabou de completar 5 anos e está se tornando fanático por futebol e pelo São Paulo (não pressionei nem um pouco, juro por Deus!).
8 - Sou ateu. (Graças à Deus).
9 - Gosto de estudar teorias da conspiração, mesmo sabendo que é tudo bobagem.
10 - Não acredito que o homem foi à Lua (aquela encenação foi parte do plano dos Rockefeller para instituir a Nova Era).
11 - Tenho certeza absoluta que o Green Day é a melhor banda de todos os tempos. Os Beatles aparecem em um distante segundo lugar.
Resposta ao meme da Joicy (http://umaseoutrasjoicy.blogspot.com.br/)
1 - Uma música
"She" do Green Day (acabei de ouvir, provavelmente isso tenha influenciado minha escolha)
2 - Um livro
As Crônicas de Artur (Bernard Cornwell).
3 - Um filme
Pulp Fiction
4 - Um hobby
Assistir aos jogos do São Paulo no estádio
5 - Um medo
Morte das pessoas que amo
6 - Uma mania
Quebrar palitos de dente enquanto espero chegar o prato (talvez seja uma forma inconsciente de apressar os garçons, tipo - "hei, vamos levar a comida dele logo, senão ele vai acabar com nosso estoque de palitos de dente!")
7 - Um sonho
Poder me dedicar integralmente à escrita
8 - Não consigo viver sem
Paixão
9 - Tem coleção de alguma coisa?
Sim, de miniaturas de RPG (se fossem 12 coisas, a 12º seria - "As pessoas dizem que sou Nerd, não sei por quê.").
10 - O que lhe chama atenção no Umas e outras?
O jeito informal que a Joicy escreve. Parece uma conversa de boteco (só falta a cerveja pra ficar perfeito).
Perguntas da Valquíria (http://palavrasdevalquiria.blogspot.com.br/):
1 - O que você gosta de fazer no final de semana?
Tomar café na padaria, comer pastel na feira, andar no parque, jogar bola com meu filho, ir ao cinema e ao estádio de futebol.
Resumindo, gosto de sair de casa.
2 - Qual seu estilo musical?
Punk Rock!
3 - Qual seu lugar preferido?
Tirando a minha casa (embora isso soe paradoxal com a primeira resposta), o Morumbi.
4 - Qual momento mais marcou sua vida?
O nascimento do meu filho. É uma emoção indescrítivel.
5 - Tem alguma mania? Qual?
No outro meme já falei sobre a dos palitos. Que eu me lembre é só essa. Nem vou perguntar pra minha esposa, senão provavelmente ela vai aparecer com uma lista.
6 - O que você considera mais importante na sua vida?
Ficar perto e acompanhar o desenvolvimento do meu filho.
7 - Se arrepende de alguma coisa? De quê?
Às vezes penso que poderia ter me dedicado mais ao desenho e à escrita. Não sei como seria, mas tenho certeza que não teria conhecido os meus amigos atuais e talvez nem a minha esposa. Então não posso dizer que me arrependo.
Ah... deveria ter ido ao show do Paul McCartney. Disso eu me arrependo sim.
8 - Qual a sua relação com a escrita?
Gosto de escrever, mas não consigo dedicar muito tempo à isso. Tenho uns 3 ou 4 livros aguardando um pouco de atenção há anos... e o tempo vai passando e eles continuam lá, parados.
9 - Do que você tem medo?
De perder as pessoas que amo.
10 - Prefere cinema ou teatro?
Cinema! A telona me impressiona. Sempre.
11 - O que você acha da pessoa que te enviou esse Meme?
Me parece uma moça sincera, honesta e de muita fé. Uma mulher forte e independente que faz o possível e o impossível pelo filho.
Uma boa pessoa.
Assinar:
Postagens (Atom)