"O Corinthians não tem estádio". Essa é uma das primeiras coisas que os torcedores rivais aprendem a dizer. Sim, o Corinthians ainda não tem estádio, mas o Corinthians hoje tem uma casa - o estádio público da cidade de São Paulo, Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembú, o estádio do povo, é hoje a casa do time do povo. E não é fácil enfrentar o Corinthians lá, principalmente em jogo valendo a ponta da tabela. Hoje essa árdua tarefa coube ao Botafogo.
O Fogão vem de um empate inesperado, em casa, contra o Bahia. Empate esse que lhe custou dois pontos importantes na disputa acirrada pelo título. O Timão vem de uma vitória arrasadora nesse mesmo Pacaembú, por 3 x 0 contra o Atlético Goianiense, vitória com a qual retomou a ponta da tabela.
O Corinthians é o líder do campeonato, o Corinthians joga em casa, apoiado pela sua apaixonada torcida, o Corinthians é o favorito. No Pacaembú o Corinthians é sempre o favorito. O caldeirão ferve, a torcida adversária se cala, as pernas dos jogadores adversários tremem, a arbitragem é pressionada, todos se intimidam.
Todos, menos o Botafogo.
O Corinthians é um adversário forte, mas o Botafogo não pode perder pra ninguém.
E após o apito inicial, quem manda no jogo é o Glorioso. Com toque de bola rápido e envolvente, saindo em velocidade, o Botafogo marca logo de cara, mas o bandeirinha falha e anula o gol. Alguns minutos depois, novo gol, gol de el Loco Abreu. Esse vale, Botafogo 1 x 0.
O Corinthians sente o golpe, vai pra cima sem muita organização e vê um adversário extremamete perigoso nos contra-ataques. Para ser campeão, um time precisa competência, regularidade, elenco, etc. Mas também precisa de um pouco de sorte de vez em quando. E o Botafogo teve essa sorte, aquela que favorece os destemidos, aquela sorte de campeão. Maicosuel chuta, a bola desvia e encobre Julio César. Botafogo 2 x 0. A fiel torcida não acredita no que vê diante de seus olhos, ninguém acredita.
O primeiro tempo acaba sob olhares perplexos.
Recomeça o segundo tempo. O Corinthians volta na adversidade, precisando correr muito e buscar uma fagulha de esperança em um jogo praticamente perdido. O Corinthians volta prcisando fazer milagre. Quando está nessa situação, como uma fera acuada, o Corinthians se torna um adversário terrível. E o Timão volta pressionando, desde o primeiro minuto. Os jogadores se desdobram, correm como loucos, empurrados pelo bando de loucos na arquibancada. O Corinthians pode ganhar, pode perder, mas nunca desistir. E ele não desiste. O Corinthians pressiona e o Fogão já não consegue sair em seus velozes contra-ataques.
O jogo se torna um massacre, o gol corintiano, o gol que inflamaria a partida parece questão de tempo. Mas aí o goleiro reserva do Botafogo, Renan, começou a se tornar o nome da partida. Principalmente depois dos 15 minutos, quando Cortês foi expulso e a pressão aumentou ainda mais. Foi um bombardeio. Chutes, cabeçadas, bola na trave, show de defesas e bloqueios. Mais de uma vez o Botafogo contou com a sorte para não tomar o gol. Aquela sorte de campeão.
Do 1º ao último minuto do segundo tempo o Corinthians correu e tentou, empurrado pela torcida que justamente reconheceu o esforço de seus atletas e os aplaudiu no final, mesmo com a derrota. Pelo segundo tempo, o Corinthians merecia um resultado melhor. Mas hoje eles estavam enfrentando o time que é heróico em cada jogo.
Estavam enfrentando o Glorioso.
E o Glorioso não pode perder, perder pra ninguém.