POR PATRÍCIA Sempre dei valor ao Dia das Mães (mesmo quando percebi que poderia ser uma data voltada ao comércio... “Maio não tem nada que aumente as vendas”... “Que tal colocar o Dia das Mães em maio?”... “Ótimo, você foi promovido!”). Procurando pela internet, encontrei muitas referências dizendo que desde a Grécia Antiga, havia celebrações na entrada da primavera, em homenagem a Reia, mãe de Zeus e considerada matriarca de todos os deuses. Mas essa festa ancestral se perdeu, e o Dia das Mães atual só surgiu no início do século passado, nos Estados Unidos, como homenagem às mulheres que perderam os filhos na Guerra Civil Americana. Aí, em 1932 o presidente Getúlio Vargas oficializou a comemoração aqui no Brasil e já em 1949 a data ficou mais voltada ao comércio, quando começaram muitas propagandas para aumentar as vendas, virando a data mais rentável para o comércio, juntamente com o Natal.
Quando criança, adorava entregar cartões, desenhos, flores ou bugigangas feitas na escola, para a minha mãe, que era sempre super sensível (só que ao contrário) e muitas vezes “avisava” que aquelas flores eram mato, ou que já não havia lugar para guardar tanto papel e nunca guardava as bugigangas trazidas da escola.
Depois cresci e parei de dar presentes após ter recebido algumas críticas pela blusa que escolhi com muita atenção, para que fosse da cor preferida dela, com um tipo de decote e mangas permitidos por sua religião, assim como pela roupa que ela provou na loja e depois não usou dizendo que não havia gostado muito, ou pelas flores que murcham, de forma que resolvi ficar só nos telefonemas e felicitações, que também renderam críticas, por eu nunca dar um presente. – Soube que os perfumes, sabonetes, tênis dados pelos meus irmãos, uns poucos anos atrás, também foram reprovados! Resumindo, é difícil agradar a minha mãe e tenho certeza que muitos passam pelo mesmo. Aliás, lembro que alguém me contou, quando indaguei sobre o presente para sua mãe, que um ano levou flores e ela pediu “um presente”, no outro levou um par de brincos que sua mãe criticou dizendo que era para mocinha, no ano seguinte, criticou o vestido dizendo que era para velha. Aí, naquele ano, não levou nada e ouviu que “nem para levar uma florzinha ou qualquer coisinha”!!! Ou seja, não muito diferente da minha própria mãe, pelo menos neste ponto.
Afinal, mães são mulheres e, embora eu tente ao máximo fugir do padrão/clichê, sei que somos pessoas difíceis de agradar e entender, algumas muito mais!
Desde pequena, ouvia minha mãe dizer que não concorda com o Dia das Mães – embora fique brava se não ganhar presentes ou telefonemas nesse dia! - e com o conceito de mãe criado pela sociedade, que é um absurdo esse, segundo sua definição, endeusamento das mães, etc. etc. Entendo os motivos dela, pois teve uma vivencia difícil do “ter” e consequentemente do “ser” mãe e normalmente concordava com ela, só para evitar discussões que não levariam a lugar nenhum, porque como disse lá na primeira linha, eu gosto e sempre valorizei o dia das mães. Mas ela é minha mãe e de alguma forma, sempre estará lá por mim, e no final, é isso que conta. Concordo também com quem diz que todo dia é dia, mas acho legal ter um dia específico para lembrarmos, nos conscientizarmos e homenagearmos as pessoas que amamos, seja dia das mães, dos pais, das crianças, avós, qualquer um.
Terminando o momento lembranças de família, lembro que todos os anos, até 2000, realizávamos um almoço de Dia das Mães na casa da minha avó. Era um dia muito gostoso, ela reunia em sua casa os filhos, filhas, noras, genros, netos e agregados, em uma confraternização simples e bem familiar, onde era possível perceber os laços de mãe e filhos. A gente costumava presenteá-la com flores, cartões ou bugigangas feitas na escola e ela sempre retribuía com um sorriso. Minha tia também, inclusive, guarda até hoje, caixas cheias de desenhos meus e dos meus irmãos! Bom, eu não sei como minha avó era como mãe, pois não estava lá para saber (mas meu tio comentou que ela era daquelas que sabe o que o filho está sentindo só de olhar!), o que sei é que ela era uma ótima avó e amiga e por isso, todo Dia das Mães que segue desde o seu falecimento (Dezembro de 2000), lembro-me dela e não poderia deixar de cita-la aqui.
Acabei lembrando dessas histórias, enquanto pensava sobre o “ser mãe”, porque sempre tive a opinião que para ser mãe, não basta ter um filho, ser mãe é uma construção e é preciso estar disposta a crescer, aprender e evoluir. É fundamental estar aberta para o novo, abrir mão de algumas coisas, dedicar-se, enfim, fazer valer o título “mãe”. Sei que não somos super mulheres que sabem, podem e conseguem tudo, que estão sempre sorrindo, saudáveis e pacientes, que estão acima de tudo e todos só porque teve um filho. Sei disso! O ponto não é esse, e sim, assumir as responsabilidades inerentes ao papel de mãe.
Estou cansada de ouvir mulheres reclamando dos seus filhos, do cansaço, do trabalho, da educação deles, do comportamento deles, cansada mesmo. Principalmente quando essas mesmas mulheres são aquelas que menos passam tempo com seus filhos, que menos exercem a sua função materna, que largam os filhos com qualquer um para poder continuar se dedicando única e exclusivamente a si mesmas... Não há do que se queixar, certo?
Se você não colocar energia em uma atividade, é natural que ela fique com alguns problemas. Nem vou focar na situação “trabalho fora”, pois sei que na sociedade atual, não é possível vislumbrar uma mulher que não trabalha, estuda, faz academia, cuida do filho, da casa, do marido, etc. etc. temos que ser multitarefas, isso é fato. Mas isso não justifica o que vem acontecendo, crianças colocadas em segundo, terceiro, quarto plano, sem nenhum vínculo afetivo, que são mimadas com presentes e caprichos, para compensar a falta de tempo e muitas vezes (muitas mesmo), a falta de vontade dos pais de dar atenção, carinho, despenderem tempo com o filho, estar ali para ele, de verdade. E por isso é indiferente se a mãe faz mil atividades fora de casa ou não, porque o que vai contar é a qualidade do tempo juntos e não a quantidade.
Seria legal se as pessoas começassem a refletir mais sobre as consequências de seus atos e escolhas. Se você escolheu ter um filho, precisa arcar com a escolha de “ser mãe”. Isso vale para pai também, mas como é dia das mães, meu pensamento está focado nelas, ops, em nós! Hora de abrir os olhos, repensar o tipo de criação, de exemplo que estamos passando para nossos filhos, eles refletem aquilo que passamos e doamos a eles, para o bem e para o mal. Vejo muitos filhos que são estranhos para a mãe, e mães que são estranhas aos filhos... cumplicidade não existe, confiança tampouco. É complicado exigir um padrão de filho exemplar, sendo uma mãe medíocre, não fará nenhum sentido e não trará bons resultados. Por isso, gostaria de deixar meu desejo de que todas nós olhemos e reconheçamos as nossas falhas, que estejamos dispostas a modificar nossos padrões de comportamento baseados em nossa própria vivência da infância para assim transcender essa experiência, para assim aproveitar tudo aquilo que foi bom, transformar tudo aquilo que não foi, evitar repetir os mesmos erros, nos sentir seguras para cometer nossos próprios erros e corrigi-los em seguida e assim, possamos criar laços de confiança e amor.
E também guardar com carinho as bugigangas vindas da escola, as flores que são mato, os brincos de mocinha, a foto tremida, o vestido de velha, o perfume forte, etc. etc. etc. Não deseje que seu filho seja perfeito, apenas o auxilie a ser alguém bom, que reconheça e valorize as pessoas, que saiba que sempre foi valorizado e tenha em você um porto seguro.
Desejo a todas as mães que realmente SÂO mães, um ótimo dia, cheio de alegrias e colhendo cada vez mais vitórias e conquistas.
AUTORA: PATRÍCIA BAPTISTA